Eu lembro dessa história. Foi numa quinta-feira.
Foi num dia tipo assim que a gente fala: Passa lá no trampo pra almoçar, a gente faz alguma coisa depois.
Isso me contaram depois também.
Tem um cara que frequenta aqui a lanchonete...eu não sei o nome dele mas a gente chama de poliglota porque já vimos ele falando várias línguas. Quando ele chegou nesse dia, ele beijou a boca de uma moça bem nova que eu nunca tinha visto aqui.
O que eu achei gozado é que eu achava que ele era namorado de uma outra moça que também vem sempre aqui, eles almoçam juntos todos os dias. É a Cidinha, essa eu sei, já ouvi ela se apresentando pras pessoas.
Aí o poliglota beijou a moça mais nova, eu vi detrás do balcão. E aí a Cidinha chegou e beijou ele também. Nunca tinha pensado isso do poliglota.
Acho que é porque ele fala várias línguas então tou pensando em fazer um curso de inglês daqueles que você aprende a falar em 3 meses. As mina curte isso já saquei.
Os três foram pra mesa, vieram para mais perto da pia, eu tava lavando os copos nesse dia.
Então o poliglota sentou ao lado da moça mais nova com a mão na coxa dela e perguntou o que elas queriam comer.
A moça mais nova disse que não queria nada, valeu. Já tava de saída. Mas pôxa, ela tinha chegado só há 10 minutos!
E então ele disse: Vai comer, sim. Cidinha o que você vai querer?
A Cidinha disse que queria comer um virado à paulista. Ela disse que tava com vontade de comer bisteca.
O poliglota disse para a moça mais nova: ah, ótimo, pode ser virado à paulista então, amor?
A moça mais nova só falou que podia. O poliglota perguntou então o que elas iam beber. E esperaram o atendente.
Eu não estava atendendo neste dia. Aí como o atendente não apareceu porque a lanchonete tava cheia, o poliglota veio fazer o pedido no balcão com o Noca.
Enquanto isso, na mesa, a Cidinha mexia no celular. Se pá ia fazer um selfie com a bisteca e postar no face igual todo mundo.
A mais nova olhava para o teto e para os cartazes da lanchonete. Bolo de climão.
A cidinha então pergunta para quebrar o gelo:
- E aí o que você gosta de fazer?
A mais nova vira para Cidinha e fala:
- Gosto de escrever hitórias.
Aí parece que só por educação ela pergunta:
- E você?
- Ahhh, eu gosto de crianças.
A mais nova parece bem menos empolgada mas diz:
-Legal.
O poliglota chega e o virado à paulista deles chega bem em seguida. Aqui a gente trabalha bem rápido, principalmente na hora do almoço que é rush, né.
Enquanto eles comem, a Cidinha conversa com o poliglota sobre relatórios de uma burocra qualquer.
A mais nova se levanta, diz, tou indo e da um beijão no poliglota. E sai.
Que bundão, cara. sássenhora. Se eu não tivesse no trampo eu ia dizer: Aí, sim, heim?
Aí foi rápido. Mesmo com os carros passando a mais nova atravessou a alameda.
O corpo dela voou alguns metros. Sangue na cabeça e acho que esta historia ela não vai escrever.
Foi o virado à Paulista mais indigesto que eu já tinha visto na vida.
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quinta-feira, 31 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
simples assim
Parece uma grande bobagem.
As coisas todas tornando-se mais leves naquele dia, o dia dos origamis.
Aquela tarde de outono em que suas mãos ficaram com os dedos todos verdes depois de dobrar aqui, agora aqui, ali e e ali de novo.
Antes de abrir as asinhas - tem que fazer um pedido. Foi o que você havia me dito.
E eu fiz.
Mas depois você me disse que para que o pedido se realizasse eu deveria fazer mais 999 origamis.
Eu deveria dobrar um bando de 999 origamis tsurus cuja técnica eu ainda não havia dominado e estava longe de dominar.
Você também parecia triste mas certamente não era por isso. Você não sabia que eu parava por ali.
Você não sabia que eu não chegaria a dobrar os outros 999 tsorus.
Não. É tudo mais simples. Você dobra 1000 tsurus para seus pedidos se realizarem.
Eu torno as minhas causas mais urgentes. Eu dobro só um e todos os meus pedidos devem se realizar. Assim mesmo.
Tsurus solitários.
Tsurus solitários. Como eu.
O que importa é a leveza no abrir das asas para voar.
E sempre na hora do voar e partir eu sentia saudades de tudo aquilo.
As coisas todas tornando-se mais leves naquele dia, o dia dos origamis.
Aquela tarde de outono em que suas mãos ficaram com os dedos todos verdes depois de dobrar aqui, agora aqui, ali e e ali de novo.
Antes de abrir as asinhas - tem que fazer um pedido. Foi o que você havia me dito.
E eu fiz.
Mas depois você me disse que para que o pedido se realizasse eu deveria fazer mais 999 origamis.
Eu deveria dobrar um bando de 999 origamis tsurus cuja técnica eu ainda não havia dominado e estava longe de dominar.
Você também parecia triste mas certamente não era por isso. Você não sabia que eu parava por ali.
Você não sabia que eu não chegaria a dobrar os outros 999 tsorus.
Não. É tudo mais simples. Você dobra 1000 tsurus para seus pedidos se realizarem.
Eu torno as minhas causas mais urgentes. Eu dobro só um e todos os meus pedidos devem se realizar. Assim mesmo.
Tsurus solitários.
Tsurus solitários. Como eu.
O que importa é a leveza no abrir das asas para voar.
E sempre na hora do voar e partir eu sentia saudades de tudo aquilo.
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