terça-feira, 7 de setembro de 2010

Pão com ovo

Adentrei o seleiro “Acabou a comida” foi o que eu pensei. Onde estará o Chileno das empanadas agora? Calculei mentalmente quanto de dinheiro poderia ter ainda em minha carteira e fui atrás de algo para encher a barriga. A grande surpresa gastronômica que descobri do lado de fora, foi algo maravilhosamente compatível com o meu bolso: Pão com ovo no preço de 1,50. Per-fei-to. Sentei defronte a sala de aula. Daqui posso ouvir o meu professor preferido falando sobre contos. Coisa que eu saberei logo mais. Me divirto escutando as pausas e o sotaque alemão do meu professor, agora, quase familiar depois de um semestre. É muita poesia ter um professor alemão, sabe? Com o tempo a gente se acostuma. Sentada ali naqueles degraus cheguei por um momento a me sentir menos sozinha. E assim continuei somente com essa sensação de "menos sozinha". Sempre odiei fazer as minhas refeições sozinha. Acho que o meu fim sempre foi brigar com a minha mãe durante o almoço e o jantar e ter que subir com a comida pro quarto. Um cachorro amarelo e peludo sentou-se ao meu lado e desprezou o pedaço do meu pão eu lhe ofertei. Mas gostou do ovo frito. E daí que eu só paguei 1,50? O gosto estava bom do mesmo jeito. E o chocolate derretido em minha mochila que eu comeria de sobremesa dali a pouco também, também deveria estar bom mesmo assim. Olhei ao meu redor e me senti feliz. É isso que tem pra hoje. E eu sorri ao constatar isso.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O vento bateu na cara enquanto eu disfarçava meus olhos vermelhos.

Subimos até o topo e lá em cima nos abraçamos e combinamos que ia ficar tudo bem.
Eu disse combinamos na linha anterior, só pra ficar mais bonito e menos triste, porque eu combinei sozinha, por mais que a sua cabeça se movimentasse como quem dissesse um sim.
Eu tentei não chorar, eu tentei não deixar que a saudade corroesse todo o meu corpo frágil e quase nu. E eu me sentia tão nua, tão exposta, tão aberta.
Olhamos as estrelas lá de cima e acreditamos que um dia todas elas seriam nossas. Cada uma delas, a azul, a preta, a amarela e até aquela ali, que parecia tão difícil de ser alcançada.
Mas tu me empurraste lá de cima e eu caí rolando até o chão, esfolando a cara nos cascalhos encontrados pelo caminho.
Tu foste embora enquanto eu tomava sereno. E naquele dia eu passei frio, sozinha e jogada eu passei muito frio.
Desde então meu corpo está dolorido e eu estou toda travada novamente, as minhas costas doem, se dói, doem sim.
Mas eu juro que o meu coração dói mais. Mas esse provavelmente você não quer saber.

Mãozinha que aperta meu dedo.

E eu aprendi a receber o Caos. Ele é uma criança marota. Pego o caos no colo e aceito que tenho que levá-lo comigo.
Seria mais fácil deixá-lo em casa e andar sozinha. Fingir que não o tenho, fingir que não o fiz.
Mas eu o fiz e lembro desse dia, foram algumas fortes estancadas pouco abaixo do meu ventre, alguns carinhos, sorrisos e palavras doces.
E aqui está ele, é um filho. É um filho que não me deixa dormir. Pede cuidado e atenção o tempo todo.
E se eu não cuidar, ele crescerá e se tornará um homem mau, capaz de fazer uma pessoa durona chorar.
Por isso tenho que aceitá-lo e cuidar dele, o mundo já está cheio de homens maus e eu não quero formar mais um.
Se eu não cuidar...não tem ninguém. Não tem ninguém para registrá-lo, aceitá-lo e faze-lo melhor, não tem ninguém que tente educá-lo e faze-lo menos pior do que já é.
Não há disposição para cuidar de um filho nascido por acidente. E agora acredito que foi um acidente mesmo.
Um terrível acidente quando eu me encontrava sozinha no lugar errado e na hora errada ao tentar comer uma banana. E olha que eu ainda tomei o cuidado para não soltar a casca por aí, com medo de alguém escorregar.
Mas não foi um acidente. Algumas coisas não acontecem por acidente por mais que eu me esforce para acreditar que sim.
Ter um filho é tirar um pedaço de si, mas isso não me tornou mais fria, menos sensível.
Tentei fazer-me mais dura, mais seca. É necessário que alguém tenha maturidade para cuidar deste filho, mesmo que a idéia tenha sido só construir.
Nem pensamos em quebrar tudo e jogar o resto por aí. Mas ficou o resto, porque de tudo fica um pouco.
Ficou o resto e eu faço parte deste resto. Eu me sinto o resto, eu me sinto a parte que sobrou.
Mas ainda tem o Caos e é preciso cuidar dele. Podia parecer que sim, mas eu não fiz este filho sozinha, embora a responsabilidade de cuidar tenha vindo inteiramente para mim por falta de opção e excesso de omissão.
Vejo-me transpirando ao trocar as fraldas, porém, não posso enxugar meu rosto porque estou limpando toda a bosta.

O nosso amor a gente inventa pra se distrair.

A primeira noite dá um pouco de medo mesmo. Mas depois passa, você vai ver. E que seja doce.
Depois haverá outras coisas para ocupar tua cabeça, aquela que na qual, não receberá um carinho.
Esta não é a primeira vez que acontece, não é mesmo? E me arrisco em dizer, que não será a última.
Mas vai ficar tudo bem. Um sopro já te empurra pra frente. Um chute então, é capaz de te fazer andar, mesmo que cambaleando.
Pense naquela imagem, alguém te leva pra cima de uma montanha e te empurra lá de cima. Você cai rolando, batendo a cara, colecionando feridas e novas escoriações.
Normal. As feridas fecham. Algumas demoram a cicatrizar, tente esquecer da existência delas. Feridas se propagam e viram um câncer. E você não quer ter um câncer, não é mesmo?
Você não quer ver o seu cabelo caindo, correto? Pois é, filho, você não merece isso.
Você é só uma criança perdida com esperança de ganhar um carinho. Você tem quase toda a ingenuidade de uma criança. Mas vai ficar tudo bem.
É só você sair dessa esquina errada. Essa encruzilhada louca. Filho, como tu foste parar aí?
A mamãe disse tanto pra tu tomar cuidado com os homens maus.
E olha só, alguém dá um sorriso mais simpático, te conta uma história e tu já se sente à vontade para oferecer tua mãozinha e ajudar.
Não há um problema nisso, meu filho. Sei o quanto te fiz receptivo e incapaz de negar uma ajuda.
As pessoas vão te magoar e te decepcionar mesmo. Mas por favor, não deixe de acreditar em você mesmo e defender os teus princípios.
Não deixe que as pessoas façam de você, uma criatura fria.
Sei que o calor do teu abraço é capaz de aquecer e até mesmo derreter uma pedra.
Agora, levante-se deste canto. Não fique expondo as suas fragilidades. Sabe o que o que as pessoas fazem com as tuas fragilidades?
Elas pegam suas fragilidades e usam contra tu depois. E você ainda é novo, não vai saber o que fazer quando se sentir inseguro.
Tu só tem 20 anos, tem muito que bater, antes de desistir. E vai demorar pra tu criar maturidade, fio. Já aviso. Tem ainda mais uns vinte anos pela frente.
Vai logo, levanta daí. Vamos arrumar toda essa bagunça, antes que comece a acumular poeira e a gente comece a tossir.
Ficou tudo sujo de sangue. Vamos limpar tudo? Vai lá, pega um desinfetante de cheiro bom. E arruma outro pano de chão, que aquele já ta bem sujo e feio.
Vamos fio, a mamãe ta aqui. Passa o desinfetante nas paredes, mas cuidado com as rachaduras que ficaram, ta? Vai arder bastante....mas assopra que passa.
Dessa vez nós não achamos que ia machucar, mas acabamos nos machucando.
Mas vai ficar tudo bem, fio. Deixa que a mãe cuida de você.
Eu prometo que vai ficar tudo bem.
Foi só uma história boba que a mamãe inventou.

Limpo os pés no pano de chão que um dia já foi uma camisa pólo.

E eu não sabia, mas acabei adentrando sem pedir licença, algo que não consigo explicar, me empurrou através daquela porta, onde vez ou outra, eu já havia encostado meu rosto e tentava enxergar pelo buraco da fechadura, o que tinha lá dentro.
Eu me perguntava intimamente, timidamente: Será que um dia haverá um lugar para mim, aí dentro?
Quando eu cheguei aqui, as paredes estavam frias e pulsavam com menos força.
Paredes que outrora foram vermelhas ficavam pretas, na medida em que o tempo ia passando.
Tornava-se cada vez mais difícil, bombear sangue para o resto do corpo, circular energia por todos os cantos da casa.
Ao chegar, passei a mão com cuidado pela parede e achei o interruptor, consegui acender uma luz.
E como era bonito aquilo tudo. Por dentro dele, era tudo bem mais bonito do que eu havia conseguido imaginar.
Algumas coisas já estavam velhas e desgastadas e sim, teriam de ser jogadas fora.
Mas havia mais que isso. Muitas mobílias que ainda davam para salvar. Que valiam a pena ser salvas.
Resolvi salvar todas, uma por uma. Pois pra mim, essas mobílias desperdiçadas ainda servem, servem muito.
Eu só precisava de um tempo. E eu queria um espaço também. O meu espaço.
Encostei-me na parede e com as costas, fui escorregando até sentar no chão.
Até sentar ali no chão daquele coraçãozinho.
Era um coração que cansado de apanhar, já estava quase parando de bater.
Até então.
Mas eu decidi ficar ali mesmo.
Com o tempo a corrente de vento diminui.
E eu sou capaz de aquecer este lugar.

Toc, toc, toc, pode entrar.

Bata os pés no tapete e pode entrar.
Tem café em cima da mesa.
A água do chuveiro ainda deve estar quente. Você pode tomar um banho. No chão tem um sabonete líquido que faz espuma.
Ali você pode esquentar sua comida e ali, você pode colocar sua garrafinha de chá para gelar.
Separei um cobertor para você. Você pode dividi-lo comigo se quiser.
Desculpe pelo colchão no chão. É o que tem pra hoje.
Sabe, às vezes, as paredes pulsam com mais força. Não precisa ficar com medo, eu estou aqui, qualquer coisa, pode chamar ta?
Fique a vontade.
Tenho poucas mobílias, eu sei.
Mas pode fazer do meu coração o teu lar, mesmo assim.

E não precisa abaixar a tampa do vaso.

É bem verdade, essa história de permissão. Perguntei se queria entrar e ofereci um café apenas por educação e agora você está aqui, folheado algum dos meus livros, escutando um dos meus cds que você mesmo colocou no rádio pra tocar. Daqui a pouco você vai sentar no sofá com as pernas abertas, as suas coxas apertadas dentro de um bermudão qualquer, e a sua barriga descansará em cima da braguilha e os seus chinelos estarão no tapete e daqui a pouco o cachorro vai pegar e levar para qualquer canto da casa, como num filme. Você irá abrir uma lata de cerveja e arrotar na minha frente e agora você nem pede mais desculpas, ora essa, santa intimidade! E eu não vou falar nada, porque eu nunca soube arrotar e você foi o único que sentou ao meu lado e me ensinou mesmo que achasse isso feio e tudo bem que é feio, esqueci minhas calcinhas penduradas no boxe ontem pela manhã e mesmo assim, acordamos e transamos e tinha o café, o nosso café, o café que você fez, e tinha tudo e tudo isso só porque um dia deixei você entrar sem pedir e você acabou ficando e ficando e tudo bem, é assim mesmo.

A garota que ganhava livros...

... havia ganhado um livro. Dele. E ele não era qualquer garoto. Ele era aquele garoto.
Foi aquele garoto quem escreveu o livro. Disse timidamente que havia escrito um e ela claro, pediu.
E ela sempre pedia coisas. Ele trouxe o livro, sem dedicatória alguma. “Que triste” pensou ela, “assim não é vantagem nenhuma conhecer um escritor!”.
E o livro permaneceu guardado em sua estante durante meses, junto com outros livros, outros livros que ela achava que jamais conseguiria ler.
Havia tantos livros da escola e tantas coisas pra ler!
Era uma tarde fria de começo de férias. Daquelas tardes existentes para ficar debaixo do cobertor bebericando uma bebida quente e muito doce. Não havia nada para fazer. Não havia nada que parecesse melhorar aquele mal humorzinho.
Sentia-se sozinha, repassou mentalmente todos os seus projetos para férias e decidiu começar naquele instante.
Foi até a estante e pegou o livro. De bruços, debaixo do cobertor, ela lia atentamente. Aquele livro, o livro dele.
Supreendendo-se a cada linha chegou ao final extasiada. Há muito que não lia algo tão bom e emocionante.
Era emocionante porque aquelas linhas guardavam muito talento. Essa parte a cativava por demais.
Ao chegar no final do livro, resolveu ler uma segunda vez. E dessa vez, repassar cada momento que havia achado mais legal, fazendo anotações.
Brincou de ser professora, brincou de ler a redação de um aluno. “Esse é um dos mais inteligentes” pensou. E ele era, era o mais inteligente.
Morava numa biblioteca e sabia todos os assuntos, sempre tinha um livro pra recomendar. Sempre tinha um livro pra emprestar.
E sempre tinha os brinquedos mais legais que ele levava no dia do brinquedo.
Eram colegas de classe, daqueles que sentam ao teu lado, na quinta fileira, na segunda carteira da esquerda pra direita.
Explica-te a lição e divide o lanche. E traduz o próprio livro e ainda lê em voz alta se você pedir. Faz-te acreditar que a vida é poesia.
E ela gostava de pensar que isso só acontecia porque era ela. Ela não queria ter que pedir nada e tentava não pedir nunca.
Quando ele não estava, um vazio tomava conta da sala de aula. A garota então, escutava alguém entrar na sala e olhava em direção a porta. E nunca era ele.
Naquele dia, o garoto não adivinhou que ela estava lendo o livro que ele mesmo escreveu. Perdeu o jogo de adivinhação. E olha que ele estava indo tão bem!
No livro tinha a história de um mago aprendiz que encontrava um demônio. Uma história dentre tantas outras histórias que a garota ainda esperava escutar dele.
Ela não era uma dessas garotas. Ela era aquela garota.
E naquele dia aquela garota escreveu em seu diário sobre o livro que aquele garoto havia escrito.
Porque ela leu aquele livro naquele dia e parecia que tudo ia ficar bem.

Para: Thiago, o inteligente.


Enquanto a guitarra chora...

Delicadamente, gentilmente, suavemente, divido o quarto com duas meninas. Meninas mesmo. Daquelas que se vestem igual e tem sempre algo para conversar antes de dormir.
É um hotel. Lembrei dos personagens marginais que moram em hotéis. Não hotéis como este, mas por ora, quis pensar que sim.
Quis pensar na minha pessoa totalmente sozinha, escrevendo compulsivamente e morando num quarto de hotel.
Mas não, isso já existe. Tem o Chinaski, tem o Bandini, tem o Dimi.
Tem o café, tem o chuveiro, tem a roupa de cama, tem uma mesinha para escrever e um frigobar da qual não comprarei nada.
Dia dos namorados. Essa data, bem como o dia das mães e o dia dos pais e qualquer outra data convencional, não representa nada para mim.
A diferença é que se um dia eu tiver dinheiro, no dia dos pais e das mães, tem pessoas para eu presentear.
Fim de um dia na qual me encontro cansada. Tem uma festa logo mais. Uma festa na qual a todo o momento vou me perguntar "isso está mesmo acontecendo ou eu que bebi demais?".
Talvez seja a falta da bebida e aí, dou mais um gole na cerveja.
Passando os canais da Tv, noto um senhorzinho conhecido. B.B. King. Para minha surpresa, um documentário sobre Blues na Tv.
E essa é a grande promessa de companhia e diversão para esta noite. No dia dos namorados, dormirei com o B.B. King.
Mas vou tomar um banho. O chuveiro do hotel tem três tipos de jatos diferentes. Eu poderia morar debaixo daquele chuveiro.
Entendi a frase: "Vou preparar o banho". A água demora a temperar. Tem que ligar as duas torneiras, senão você congela ou você queima os braços, como eu fiz em uma das minhas tentativas de desligar uma torneira por vez.
A Tv está no último volume e lá do chuveiro consigo escutar vozes e risadas e música e penso que até parece que tem alguém ali, me sinto menos sozinha.
Eu não queria sair de debaixo deste chuveiro, nunca! O mundo lá fora, parece perigoso demais pra mim.
Mas no dia seguinte, estarei mais descansada, visitarei uma feirinha que me fará muito bem. Depois vou ler sobre tragédia grega, deitada na cama, sentindo o sol bater em meu rosto.
E elas estarão conversando sobre um assunto de meninas qualquer, e uma delas estará segurando um incenso bom para circular energia.
E os beatles estarão tocando suas músicas mais melancólicas, no iphone em cima da cama ao lado.
Mas sabe, aquele papel higiênico e aquelas toalhas...não são tão macios.
Tudo muito bonito, tudo muito impessoal.

A água ainda deve estar quente.

Foi o jeito que eu dei pra achar um pouco de poesia na solidão e na dor.
Uma vez perguntaram a ele o que ele fazia quando algo acabava e então ele disse "Eu transformo". E eu guardei com tanto carinho aquela informação.
Arquivei junto com aquele ensinamento - que aprendi com ele também - sobre o "conhecimento funcionar com sobreposição" que eu inutilmente passei para frente na minha aula de linguística.
Desde então venho tentando sobrepor e transformar, mas as vezes me demoro.
As vezes só consigo pensar ao sentir a água quente do chuveiro escorrendo em meus cabelos curtos, batendo em minha nuca.
E eu sinto o cheiro do novo shampoo e busco em minha memória, alguma lembrança já esquecida.
Olho com alguma mágoa para as calcinhas que eu pendurei numa torneira que um dia já fez jorrar água em uma banheira.
Calcinhas que já viram melhores dias. Calcinhas que preciso pendurar no meu varal. Não há mais calcinhas em minhas gavetas, acho que é o momento de comprar calcinhas novas.
Eu peguei creme demais. Daqueles cremes de pote que quando a gente passa, escorre pelo rosto e ainda assim, achamos que o nosso cabelo estará salvo.
Eu queria um cachorro amarelo e sorridente que me esperasse melancolicamente, com a cabeça entre as patas, abaixado na porta, enquanto eu não chego.
Eu queria um gato vagabundo como eu, só meu, que olhasse pra mim e pensasse "Essa é a minha humana, é a humana que eu escolhi. e esse é o meu cachorro, e essa a minha cama, e esse meu sofá e esse meu canto
e essa é a minha cadeira, mas a minha humana acha que ela é dona de tudo isso só porque ela comprou". E ele saberá que nós somos donos apenas do que nós escolhemos e talvez apenas ainda, do que nos escolhe.
Eu ainda penso sobre a morte que aguça a minha curiosidade. A morte do lado de lá. Do lado de cá eu choro, do lado de lá eu nem sei, eu nem sei que já morri.
Lá de longe vem uma música que está tocando no rádio, algum heavy metal. Parece que tem alguém.
Eu já percebi como troco de assunto a cada linha. Eu posso estar feliz, mas a solidão estará sempre aqui.
Ela apareceu na primeira linha e na antepenúltima, enquanto transformo o frio no calor, numa prosa sobre a dor.