sexta-feira, 5 de setembro de 2014

15 minutos

Eu não sei porque ela apareceu ali e eu inclusive perguntei se naquela hora, de sol quente do meio dia e pouco ela não deveria estar na escola. Mas ela disse que tinha 18, já.
18, se não fossem os documentos falsos que eu conhecia muito bem, eu teria dito: Que legal, já pode entrar no motel.
Mas essa coisa de ter 18 e poder entrar no motel é da minha época e não da época dela. O que as pessoas da época dela estão fazendo? Não sei. O que comem, como vivem? Não sei. Provavelmente fabricam seus próprios documentos falsos com muito mais facilidade do que nós, da minha época, fazíamos.
Sei lá, misturam vodca na gelatina enquanto ouvem alguma banda indie, não sei, algo colorido assim.
Essa moçadinha de hoje não conhece nem o He-Man. Lembra daquele episódio em que o He-Man dizia para não fumar?
Pois é, evidentemente não ouvi aquele conselho do He-Man. E eu fazia os 15 minutinhos finais do meu almoço, com o meu cigarro na porta do trabalho. Eu sou fumante, sim e depois do almoço eu percebo que as pessoas do meu departamento tapam o nariz. Elas sentem o cheiro do cigarro. Fazer o que?
Ela me pediu o isqueiro. Na minha época este era o grande início de conversa que você poderia ter em qualquer lugar da Augusta, era um código mas fiquei na dúvida se ela sabia disso...se nos dias de hoje este código ainda existe. Então fiz cara de moralista e perguntei se não era a hora de estar na escola. Não funcionou porque ela veio com o papo dos 18.
E aquela tossida depois de dar a primeira tragada me levou a crer que sim, ela conhecia o código impregnado na tradição dos amantes da noite.
Já vivi bastante para entender que ela queria conversar comigo. Eu pensei comigo: adolescente geralmente gosta de reclamar da família e foi isso que eu perguntei. Se os pais dela sabiam que ela fumava.
Pronto. Ela contou tudo sobre os pais, o irmão, os questionamentos políticos, filosóficos, religiosos, etc e tal, o curso que começou na faculdade e que tá abrindo a cabeça, e todas as outras coisas que estão abrindo a cabeça. Ela me parecia ter a cabeça bem aberta mesmo.
Mas eram os 15 minutinhos finais do meu almoço. E o tempo acabou. Ela era linda e me perguntei se eu ainda tinha idade para isso, para achar alguém de 18 linda.
Não tinha nada demais nisso tudo era só que o dia estava ruim e ficou melhor depois que alguém pediu meu isqueiro emprestado.
Alguém que se destacava na multidão.

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