Eu estava quase pulando, quando ela apareceu e disse oi. Olhou-me de cima a baixo e disse:
- Se eu fosse tu, eu não pulava.
Olhei de cima abaixo também, para ela.
- Se eu fosse tu, eu também não pulava, eu ia ali na esquina e descolava uma grana com esse corpinho.
Tirou um cigarro da mochila, acendeu, soltou a fumaça e olhou-me.
- Aposto que você não quis dizer isso. Aposto que tu só ta tentando manter a fama de ranzinza.
Mas você nem me conhece - eu disse - não sabe se tenho fama de ranzinza.
Ela disse: É ? - e já emendou com um: Mas você tem cara de quem faz essas coisas.
Fiquei em silêncio. Era o fim, não havia mais nada, não havia sequer algo para dizer.
- Se você não pular, divido com você o pedaço de pizza de calabresa que tenho numa tigela aqui na minha mochila....
Não lembro qual foi a ultima vez que uma garota me ofereceu um pedaço de pizza.
Sabe quando um rosto novo anuncia algo de bom que poderia acontecer?
Naquele dia eu resolvi não pular.
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domingo, 26 de dezembro de 2010
Efêmero
Ele a encontrará sentada na sarjeta fumando um cigarro num dia pobre.
Ele se aproximará e dirá: Oi. Ela responderá o Oi, ainda sem empolgação.
E eles conversarão, ele em nenhum momento irá se incomodar com o fato dela usar uma camiseta rasgada nas mangas, uma calça jeans surrada e um all star sujo.
Ele não se incomodará com nada, porque ela será receptiva.
Ele saberá sobre tudo, todos os filmes, todos os livros e tudo. Ele saberá tudo sobre tudo.
Ele saberá coisas que ela nem mesmo pode imaginar que existem.
E ela estará fumando e pensando em todos os livros que abandonou antes de chegar na metade e em todos os filmes que não conseguiu chegar ao fim.
Mas ele irá acha-la interessante, mesmo assim, contudo.
Contudo, ela sorrirá ao pensar nessa possibilidade.
Mas não se surpreenderá ao constatar que era a única garota da rua.
Ele se aproximará e dirá: Oi. Ela responderá o Oi, ainda sem empolgação.
E eles conversarão, ele em nenhum momento irá se incomodar com o fato dela usar uma camiseta rasgada nas mangas, uma calça jeans surrada e um all star sujo.
Ele não se incomodará com nada, porque ela será receptiva.
Ele saberá sobre tudo, todos os filmes, todos os livros e tudo. Ele saberá tudo sobre tudo.
Ele saberá coisas que ela nem mesmo pode imaginar que existem.
E ela estará fumando e pensando em todos os livros que abandonou antes de chegar na metade e em todos os filmes que não conseguiu chegar ao fim.
Mas ele irá acha-la interessante, mesmo assim, contudo.
Contudo, ela sorrirá ao pensar nessa possibilidade.
Mas não se surpreenderá ao constatar que era a única garota da rua.
Outro miniconto sem título.
- Mãe, ele me seguiu até aqui. Posso ficar com ele?
Pensou que a mãe diria:
- É mesmo? Mas você mora tão longe, como você diz, tão afastada da civilização. Como ele conseguiu te seguir até aqui?
No entanto, a mãe respondeu:
- Ok, pode convidá-lo para entrar. Mas quem vai cuidar é você, entendeu? Quem vai dar comida, é você, dar banho, é você, levar pra passear, é você. E você que vai limpar a sujeira!
Imediatamente afastou os móveis e deixou para o novo membro de sua vida um espaço.
Ela disse:
- Vou te chamar de Rex!
E ele fez cara de interrogação.
- Oras, mas rex é tão bonito....rex, hei rex, rex vem buscar o teu jantar!
Ele abanava o rabo e sabia muito bem como ganhar uma recompensa.
Pensou que não era necessário uma coleira. Alguém poderia encontrá-lo na rua. E qualquer pessoa seria capaz de dizer:
- Sei quem tá cuidando de você, é evidente. Acho melhor você voltar pra casa, daqui a pouco vai chover!
E ele tomaria chuva na cabeça e ficaria pensando, em tudo que já estragou, tudo que já sujou e aquilo deixaria a chuva escorrendo nos pêlos de sua cabeça de forma mais triste.
Triste porque preferia não dar trabalho algum, embora fosse bom ser cuidado por alguém com tanto carinho e compreensão.
Havia um tapete seco no batente da porta. E ela o esperava com uma toalha felpuda em mãos para poder enxugá-lo. Agora já sabia como enxugar.
No final das contas, depois de tanto tempo, era necessário alguém para ela cuidar nas noites de chuva.
E de frio.
E de calor também.
Em todas as noites, era o que ela pensava.
Sempre haveria espaço, todo o espaço.
Pensou que a mãe diria:
- É mesmo? Mas você mora tão longe, como você diz, tão afastada da civilização. Como ele conseguiu te seguir até aqui?
No entanto, a mãe respondeu:
- Ok, pode convidá-lo para entrar. Mas quem vai cuidar é você, entendeu? Quem vai dar comida, é você, dar banho, é você, levar pra passear, é você. E você que vai limpar a sujeira!
Imediatamente afastou os móveis e deixou para o novo membro de sua vida um espaço.
Ela disse:
- Vou te chamar de Rex!
E ele fez cara de interrogação.
- Oras, mas rex é tão bonito....rex, hei rex, rex vem buscar o teu jantar!
Ele abanava o rabo e sabia muito bem como ganhar uma recompensa.
Pensou que não era necessário uma coleira. Alguém poderia encontrá-lo na rua. E qualquer pessoa seria capaz de dizer:
- Sei quem tá cuidando de você, é evidente. Acho melhor você voltar pra casa, daqui a pouco vai chover!
E ele tomaria chuva na cabeça e ficaria pensando, em tudo que já estragou, tudo que já sujou e aquilo deixaria a chuva escorrendo nos pêlos de sua cabeça de forma mais triste.
Triste porque preferia não dar trabalho algum, embora fosse bom ser cuidado por alguém com tanto carinho e compreensão.
Havia um tapete seco no batente da porta. E ela o esperava com uma toalha felpuda em mãos para poder enxugá-lo. Agora já sabia como enxugar.
No final das contas, depois de tanto tempo, era necessário alguém para ela cuidar nas noites de chuva.
E de frio.
E de calor também.
Em todas as noites, era o que ela pensava.
Sempre haveria espaço, todo o espaço.
sábado, 30 de outubro de 2010
Minicontos ainda sem títulos.
I
Meus braços estão retorcidos de tanto limpar o chão ao esperar uma visita sua.
Uma visita em que você fique. E encoste o carro na sarjeta e deixe o cachorro correr pelo jardim.
E divida toda a pizza que eu comprei de madrugada, só porque você escolheu que fosse assim, que a história fosse assim.
E eu também escolhi. E toda vez que você parte, as paredes e o teto choram por mim. Mas não tem problema, porque eu escolhi que fosse assim.
Eu te quero na mesa do jantar, mas se quiser sair, tudo bem. A porta é a serventia da casa, é o que dizem.
Pode ir, eu abro a porta para você. Eu já te dei a chave e tudo volta quando quiser.
Não há segredos no cadeado, queria pensar que não há segredos em nada.
E mesmo que eu tenha meus próprios segredos, os únicos segredos que tenho guardado são os seus.
II
Ao descer do ônibus, pensou que ainda havia como voltar pra casa. Encostou o bilhete único na catraca e percebeu que não tinha crédito.
Pensou em contar as moedas que tinha no bolso traseiro, mas certamente, não conseguiria pagar um bilhete pra voltar.
E olha que hoje já havia pedido dinheiro para alguém. Moço, você tem um carro? Para onde você vai? Tu pode me dar um trocado pra eu pegar o busão?.
Um trocado aqui, um trocado ali, um resto de comida aqui, água para ajudar a engolir, essas coisas.
A gente vai engolindo mesmo, fazer o que.
Acende um cigarro. A única coisa que poderia fazer no momento, era acender um cigarro.
Fumante apenas em dias pobres. Era um dia pobre este. Suas unhas estão descascadas e suas calças provavelmente já respiraram dias melhores.
Pensou em mostrar os peitos em troca de dinheiro para voltar. Mas já havia mostrado os peitos bastante naquele dia. Estava cansada.
Uma hora algum senhor bonzinho aparece e me dá uma carona - foi o que pensou.
E voltou a fumar distraidamente, porque era a única opção que lhe sobrou, aqueles cigarros amassados dignos de conquistar rapazes aleatórios na rua.
Uh, a juventude. Ela sempre conseguia pensar rapidamente em todas as possibilidades.
Mas naquele dia, ela respondeu que estava tudo bem.
Porque acostumou-se a fazer isso.
III
Não era um presente, ora essa, porque presentes são bonitos. Era apenas uma doação com um bilhete escrito com sangue, feito para doer.
Mas recebeu de bom grado mesmo assim. Gostava de receber presentes, mesmo os feios. Alguns presentes tinham carga, fato.
Pensou que poderia ser um presente bomba, abriu com cuidado afastando-o do rosto. De fato explodiu.
Não importa. Disse para o carteiro que estava tudo bem. Só para que ele pudesse ir pra casa sem dor na consciência.
Já era um fardo bem pesado em si, ter os cachorros mordendo suas pernas.
Com a cara toda queimada, como num desenho do Coyote e do Papaléguas, largou o presente num canto do quarto e nunca mais mexeu.
Mas sempre lembrava do presente. Em todos os momentos.
Depois de um tempo, resolveu dar um fim naquilo tudo.
Queimou o bilhete escrito a sangue, numa panela com fogo.
Respirou o cheiro de queimado e pensou que o ar e a água não pontuam o fim, mas o fogo sim.
Fechou os olhos e escutou a música do Bach que vinha de algum outro cômodo da casa. Sua música favorita, maravilhosa coincidência.
Tudo isso durante a hora do almoço, com platéia e tudo.
Pensou em chorar. Mas fez uma cara de indiferença.
Ainda assim aquele momento não deixou de ser poético.
Meus braços estão retorcidos de tanto limpar o chão ao esperar uma visita sua.
Uma visita em que você fique. E encoste o carro na sarjeta e deixe o cachorro correr pelo jardim.
E divida toda a pizza que eu comprei de madrugada, só porque você escolheu que fosse assim, que a história fosse assim.
E eu também escolhi. E toda vez que você parte, as paredes e o teto choram por mim. Mas não tem problema, porque eu escolhi que fosse assim.
Eu te quero na mesa do jantar, mas se quiser sair, tudo bem. A porta é a serventia da casa, é o que dizem.
Pode ir, eu abro a porta para você. Eu já te dei a chave e tudo volta quando quiser.
Não há segredos no cadeado, queria pensar que não há segredos em nada.
E mesmo que eu tenha meus próprios segredos, os únicos segredos que tenho guardado são os seus.
II
Ao descer do ônibus, pensou que ainda havia como voltar pra casa. Encostou o bilhete único na catraca e percebeu que não tinha crédito.
Pensou em contar as moedas que tinha no bolso traseiro, mas certamente, não conseguiria pagar um bilhete pra voltar.
E olha que hoje já havia pedido dinheiro para alguém. Moço, você tem um carro? Para onde você vai? Tu pode me dar um trocado pra eu pegar o busão?.
Um trocado aqui, um trocado ali, um resto de comida aqui, água para ajudar a engolir, essas coisas.
A gente vai engolindo mesmo, fazer o que.
Acende um cigarro. A única coisa que poderia fazer no momento, era acender um cigarro.
Fumante apenas em dias pobres. Era um dia pobre este. Suas unhas estão descascadas e suas calças provavelmente já respiraram dias melhores.
Pensou em mostrar os peitos em troca de dinheiro para voltar. Mas já havia mostrado os peitos bastante naquele dia. Estava cansada.
Uma hora algum senhor bonzinho aparece e me dá uma carona - foi o que pensou.
E voltou a fumar distraidamente, porque era a única opção que lhe sobrou, aqueles cigarros amassados dignos de conquistar rapazes aleatórios na rua.
Uh, a juventude. Ela sempre conseguia pensar rapidamente em todas as possibilidades.
Mas naquele dia, ela respondeu que estava tudo bem.
Porque acostumou-se a fazer isso.
III
Não era um presente, ora essa, porque presentes são bonitos. Era apenas uma doação com um bilhete escrito com sangue, feito para doer.
Mas recebeu de bom grado mesmo assim. Gostava de receber presentes, mesmo os feios. Alguns presentes tinham carga, fato.
Pensou que poderia ser um presente bomba, abriu com cuidado afastando-o do rosto. De fato explodiu.
Não importa. Disse para o carteiro que estava tudo bem. Só para que ele pudesse ir pra casa sem dor na consciência.
Já era um fardo bem pesado em si, ter os cachorros mordendo suas pernas.
Com a cara toda queimada, como num desenho do Coyote e do Papaléguas, largou o presente num canto do quarto e nunca mais mexeu.
Mas sempre lembrava do presente. Em todos os momentos.
Depois de um tempo, resolveu dar um fim naquilo tudo.
Queimou o bilhete escrito a sangue, numa panela com fogo.
Respirou o cheiro de queimado e pensou que o ar e a água não pontuam o fim, mas o fogo sim.
Fechou os olhos e escutou a música do Bach que vinha de algum outro cômodo da casa. Sua música favorita, maravilhosa coincidência.
Tudo isso durante a hora do almoço, com platéia e tudo.
Pensou em chorar. Mas fez uma cara de indiferença.
Ainda assim aquele momento não deixou de ser poético.
1, 2, 3, salve o meu mundo.
Eu só precisava de alguém pra brincar de esconde-esconde. Alguém que soubesse um bom lugar para esconder.
Alguém que grudasse o corpo junto ao meu entre duas paredes e fizesse Shiiu, pra ninguém escutar.
Alguém que dissesse "não tem ninguém olhando, pode ir"
pra eu sair correndo e gritar,
batendo a mão na parede: 1 2 3 Mayra.
Talvez eu não conseguisse chegar a tempo.
Mas depois ele sairia correndo, depois de todo mundo,
bateria a mão na parede
e gritaria
1 2 3 salvo o mundo
E o jogo começaria de novo
escondidos novamente
e de novo
de novo
de novo
Até que não precisemos mais nos esconder.
Alguém que grudasse o corpo junto ao meu entre duas paredes e fizesse Shiiu, pra ninguém escutar.
Alguém que dissesse "não tem ninguém olhando, pode ir"
pra eu sair correndo e gritar,
batendo a mão na parede: 1 2 3 Mayra.
Talvez eu não conseguisse chegar a tempo.
Mas depois ele sairia correndo, depois de todo mundo,
bateria a mão na parede
e gritaria
1 2 3 salvo o mundo
E o jogo começaria de novo
escondidos novamente
e de novo
de novo
de novo
Até que não precisemos mais nos esconder.
Pratododia
Eu fiquei com o resto.
Peguei tudo o que sobrou naquele prato, guardei num “tapauér” e coloquei na geladeira numa esperança de que o frio fizesse sumir todos aqueles micróbios. Depois de um tempo, abri a geladeira e despejei o resto no prato.
Eu não sabia que estavam distribuindo resto de comida por aí. De qualquer forma, eu cheguei tarde. Tarde para ganhar o prato de comida que eu havia escolhido. Cheguei algum tempo depois, sabe?
E por isso sobrou-me apenas o resto. O resto arrumado no prato, de um jeito bem diferente da qual eu gosto de comer.
Mas não importa. Eu misturo de novo com a colher até perder a forma e como mesmo assim, sentadinha naquele degrau.
Meu estômago sente-se preenchido.
Mesmo que eu esteja comendo o que sobrou.
Peguei tudo o que sobrou naquele prato, guardei num “tapauér” e coloquei na geladeira numa esperança de que o frio fizesse sumir todos aqueles micróbios. Depois de um tempo, abri a geladeira e despejei o resto no prato.
Eu não sabia que estavam distribuindo resto de comida por aí. De qualquer forma, eu cheguei tarde. Tarde para ganhar o prato de comida que eu havia escolhido. Cheguei algum tempo depois, sabe?
E por isso sobrou-me apenas o resto. O resto arrumado no prato, de um jeito bem diferente da qual eu gosto de comer.
Mas não importa. Eu misturo de novo com a colher até perder a forma e como mesmo assim, sentadinha naquele degrau.
Meu estômago sente-se preenchido.
Mesmo que eu esteja comendo o que sobrou.
Eu dialogo com maiores abandonados.
Eu te dei aquele copo com água. E você pediu para entrar e eu deixei.
E você ta aqui, aqui dentro. Então por que você simplesmente, não fica a vontade e senta no sofá e dá risada com um dos meus filmes bobos?
Eu divido os meus livros com você, eu divido as minhas jujubas que eu guardo no copinho, eu divido até o meu chocolate branco com cookies.
Eu divido tudo.
Eu tiro as minhas coisas da lareira e acendo o fogo e tudo pode ficar quente e doce numa noite de frio.
Eu nunca acendo a lareira. Mas dessa vez posso acender, mas só porque é você, acredite.
Eu nem sei porque construí uma casa com lareira, nunca tem ninguém pra ver o fogo queimando.
O fogo sempre queima tudo que passou. Mas sabe, eu sempre fui água, também. Tudo fica por aqui mesmo.
Porque água é cachoeira e toda água tem que descer do topo até cair no chão e misturar com outras águas e correr, correr e passar.
Minhas caixas com lembranças e minhas gazes sujas de tanto limpar feridas ficam por aqui o tempo todo, mas eu encosto tudo pelos cantos da casa.
Fica um espaço grande no meio do quarto, assim. Assim porque sempre tem que ter espaço pro novo. E eu não tenho medo do novo, mesmo que o novo seja desconhecido.
Eu tenho medo é de tudo que eu conheço e já vi.
Larga essa faca, cara. Tu não quer fazer isso, eu sei. Vai doer mais em você do que em mim, eu sei.
A porta ta aberta, tu pode ir embora e eu não conto pra ninguém, não te denuncio pra polícia.
Larga essa faca, eu aposto que tu não quer rasgar o meu coração.
E você ta aqui, aqui dentro. Então por que você simplesmente, não fica a vontade e senta no sofá e dá risada com um dos meus filmes bobos?
Eu divido os meus livros com você, eu divido as minhas jujubas que eu guardo no copinho, eu divido até o meu chocolate branco com cookies.
Eu divido tudo.
Eu tiro as minhas coisas da lareira e acendo o fogo e tudo pode ficar quente e doce numa noite de frio.
Eu nunca acendo a lareira. Mas dessa vez posso acender, mas só porque é você, acredite.
Eu nem sei porque construí uma casa com lareira, nunca tem ninguém pra ver o fogo queimando.
O fogo sempre queima tudo que passou. Mas sabe, eu sempre fui água, também. Tudo fica por aqui mesmo.
Porque água é cachoeira e toda água tem que descer do topo até cair no chão e misturar com outras águas e correr, correr e passar.
Minhas caixas com lembranças e minhas gazes sujas de tanto limpar feridas ficam por aqui o tempo todo, mas eu encosto tudo pelos cantos da casa.
Fica um espaço grande no meio do quarto, assim. Assim porque sempre tem que ter espaço pro novo. E eu não tenho medo do novo, mesmo que o novo seja desconhecido.
Eu tenho medo é de tudo que eu conheço e já vi.
Larga essa faca, cara. Tu não quer fazer isso, eu sei. Vai doer mais em você do que em mim, eu sei.
A porta ta aberta, tu pode ir embora e eu não conto pra ninguém, não te denuncio pra polícia.
Larga essa faca, eu aposto que tu não quer rasgar o meu coração.
Dia das bruxas
Travessuras e (ou) gostosuras é o meu lema. Não ligo de bater em sua porta e pedir um doce.
Porque sei que é fase, normal, uma hora passa, porque tudo passa.
Uma hora eu canso de bater em sua porta e pedir um sorriso, fazer uma gracinha com uma fantasia escura só pra ganhar um doce.
Numas de adoçar a boca, numas de sentir o doce sabor do doce que tu coloca em minhas mãos.
Encha meu pote com doces, alegrias e sorrisos.
E eu esqueço que eu consigo ser uma garotinha malvada se eu quiser.
Porque sei que é fase, normal, uma hora passa, porque tudo passa.
Uma hora eu canso de bater em sua porta e pedir um sorriso, fazer uma gracinha com uma fantasia escura só pra ganhar um doce.
Numas de adoçar a boca, numas de sentir o doce sabor do doce que tu coloca em minhas mãos.
Encha meu pote com doces, alegrias e sorrisos.
E eu esqueço que eu consigo ser uma garotinha malvada se eu quiser.
Rodinhas para ajudar
Guardei em minhas malas cada lembrança, cada sorriso, cada palavra doce.
Todas as coisas que outrora foram jogadas pelo chão.
Tudo que já havia sumido de você, antes que eu decidisse partir.
Tinha o dinheiro para o pão com o ovo mais o bilhete do trem.
Me perdi.
Vinte anos depois eu tentei me achar.
E lá estava eu.
Tudo de mim.
Toda a minha vida guardada dentro de uma mala, durante esse tempo todo.
Todas as coisas que outrora foram jogadas pelo chão.
Tudo que já havia sumido de você, antes que eu decidisse partir.
Tinha o dinheiro para o pão com o ovo mais o bilhete do trem.
Me perdi.
Vinte anos depois eu tentei me achar.
E lá estava eu.
Tudo de mim.
Toda a minha vida guardada dentro de uma mala, durante esse tempo todo.
Ensaio para cicatrizes
Eu segurei em sua mão e disse:
- Vem! Vem, não vai doer nada, eu prometo!
Sei que a cada nova cicatriz, fico mais resistente, porque cria uma casquinha que protege. Torna-se difícil machucar mais de uma vez no mesmo lugar.
Mas ainda assim, me sinto fraca. Fraca porque eu não consigo esquecer. Eu tenho medo de cair de novo.
Com o tempo a gente esquece os machucados e vai perdendo o medo de se machucar de novo. Quando não tem casquinha pra arrancar, é que ainda não deu o tempo pra esquecer.
A gente lembra da sensação de dor. A gente toma um choque e fica com medo de subir o interruptor com a mão molhada de novo. Porque a gente lembra daquela dor, ocasionada pela troca de elétrons.
Mas depois a gente esquece e mexe com eletricidade de novo. Sem medo, sem lembrar que pode tomar um choque. É assim mesmo.
Derrubaram-me, eu caí e fiquei por um tempo ali, sentindo o sol bater nos novos cortes que eu ganhei ao rolar pelo chão morro abaixo.
Doeu, doeu pra porra. Senti o sereno que veio depois batendo na cara e resolvi me levantar, enxugando as lágrimas na camiseta pra ninguém ver.
Cobrindo meus novos cortes com uma jaqueta preta velha, pra ninguém tentar passar metiolate. Eu não preciso de metiolate. Metiolate é só um jeito de fazer a ferida arder.
É só um jeito de arder de um jeito doce, com cara de carinho de mãe. Não sei se as minhas feridas precisam ser limpas por terceiros, cobertas com metiolate.
Já aprendi a limpar as minhas feridas sozinha. Alcanço a caixa de metiolate sozinha, se eu quiser. Foram vários machucados, uma hora a gente aprende.
Eu tapo com bandaid e tento fingir que elas não existem. Mas não adianta, elas ardem mesmo assim. Mesmo com o Metiolate, mesmo com o Bandaid.
Uma hora essa ferida fecha. Enquanto isso, ao tomar banho, choro debaixo do chuveiro porque a água quente também faz arder.
E tudo faz arder, acredite em mim. A saudade faz arder, a falta faz arder, o vácuo faz arder.
Meus machucados só ardem pra eu tomar mais cuidado da próxima vez. Pra cada vez que eu subir um morro, eu lembrar que eu posso cair.
É aquela sensação, que dá o medo de se machucar de novo. Meus machucados são ainda cortes e não cicatrizes com casquinhas para eu arrancar e jogar longe.
Por isso ele arde, dói e dá medo.
Quando criança minha mãe jogava mercúrio em todos os meus machucados. Ouvi dizer que dá câncer. Sei lá. Paramos com o mercúrio por aqui.
Mágoa também dá câncer. Por isso, tento me livrar das mágoas também, no mesmo saco de lixo que jogo os tubinhos de mercúrio.
Mercúrio não arde, é o que ela dizia.
Só porque não arde, não quer dizer que cura, então tudo bem se arder, uma hora sara, quando casar sara, é o que dizem, pois vai ver que é isso mesmo.
Quando eu casar, sara.
- Vem! Vem, não vai doer nada, eu prometo!
Sei que a cada nova cicatriz, fico mais resistente, porque cria uma casquinha que protege. Torna-se difícil machucar mais de uma vez no mesmo lugar.
Mas ainda assim, me sinto fraca. Fraca porque eu não consigo esquecer. Eu tenho medo de cair de novo.
Com o tempo a gente esquece os machucados e vai perdendo o medo de se machucar de novo. Quando não tem casquinha pra arrancar, é que ainda não deu o tempo pra esquecer.
A gente lembra da sensação de dor. A gente toma um choque e fica com medo de subir o interruptor com a mão molhada de novo. Porque a gente lembra daquela dor, ocasionada pela troca de elétrons.
Mas depois a gente esquece e mexe com eletricidade de novo. Sem medo, sem lembrar que pode tomar um choque. É assim mesmo.
Derrubaram-me, eu caí e fiquei por um tempo ali, sentindo o sol bater nos novos cortes que eu ganhei ao rolar pelo chão morro abaixo.
Doeu, doeu pra porra. Senti o sereno que veio depois batendo na cara e resolvi me levantar, enxugando as lágrimas na camiseta pra ninguém ver.
Cobrindo meus novos cortes com uma jaqueta preta velha, pra ninguém tentar passar metiolate. Eu não preciso de metiolate. Metiolate é só um jeito de fazer a ferida arder.
É só um jeito de arder de um jeito doce, com cara de carinho de mãe. Não sei se as minhas feridas precisam ser limpas por terceiros, cobertas com metiolate.
Já aprendi a limpar as minhas feridas sozinha. Alcanço a caixa de metiolate sozinha, se eu quiser. Foram vários machucados, uma hora a gente aprende.
Eu tapo com bandaid e tento fingir que elas não existem. Mas não adianta, elas ardem mesmo assim. Mesmo com o Metiolate, mesmo com o Bandaid.
Uma hora essa ferida fecha. Enquanto isso, ao tomar banho, choro debaixo do chuveiro porque a água quente também faz arder.
E tudo faz arder, acredite em mim. A saudade faz arder, a falta faz arder, o vácuo faz arder.
Meus machucados só ardem pra eu tomar mais cuidado da próxima vez. Pra cada vez que eu subir um morro, eu lembrar que eu posso cair.
É aquela sensação, que dá o medo de se machucar de novo. Meus machucados são ainda cortes e não cicatrizes com casquinhas para eu arrancar e jogar longe.
Por isso ele arde, dói e dá medo.
Quando criança minha mãe jogava mercúrio em todos os meus machucados. Ouvi dizer que dá câncer. Sei lá. Paramos com o mercúrio por aqui.
Mágoa também dá câncer. Por isso, tento me livrar das mágoas também, no mesmo saco de lixo que jogo os tubinhos de mercúrio.
Mercúrio não arde, é o que ela dizia.
Só porque não arde, não quer dizer que cura, então tudo bem se arder, uma hora sara, quando casar sara, é o que dizem, pois vai ver que é isso mesmo.
Quando eu casar, sara.
Júnior
Você é só uma criança.
Te levei pra passear e voltei suja de leite. Eu disse pra tu não brincar com a mamadeira assim, filho!
Eu te disse e tu não escutou.
Agora o que eu faço com você?
Como saio daqui assim?
Sabe, as pessoas olham, as pessoas questionam.
Mas eu sou tua mãe, não posso apontar o dedo pra tua cara e falar: Foi você! A culpa é toda sua, seu moleque mal criado.
Pois é né? Por que eu faria isso? Foi eu mesma quem te criou, filho. Se tu ta mal criado, eu que errei na condução.
Há algum tempo eu diria que foi falta de tapa na bunda, nem foi!
Fiquei sabendo que você anda aprontando todas na escola. Meu deus, eu criei um monstro! Olha filho...Isso não é legal!
Lembra do que a gente conversou? Lembra do nosso combinado? Eu acho que eu fui muito clara com relação ao dia do brinquedo:
“As algemas são para você brincar com os seus amiguinhos e amiguinhas apenas em casa". Qual parte do apenas em casa você não entendeu?
Agora terei que ir lá na escola, pedir as algemas de volta pra coordenadora.
Puta que pariu, filho. Não dá uma dessa com a mãe, né! A mãe te ama, poxa!
Você quer que pensem o que da tua mãe?
E esses não são os seus quadrinhos! Estes são os quadrinhos meus e do seu pai! Como você os achou?
Ai, filho.Você ta numa idade tão difícil viu! Filho, pelo amor de deus...A CEGONHA NÂO EXISTE!
Seu pai e eu fizemos você, sacou? Ou tu acha que nasceu bonito assim por acaso? É uma questão de encaixe perfeito de dois corpos nus, um dia você vai entender!
Sim, filho, corpos celestes. É isso aí. E não vem com essa de não pediu pra nascer. Não queria nascer? Então como você ganhou na corrida até o óvulo?
Ah, ta sem argumentos? ahhhh, vixe, vixe, vixe, a mamãe ganhou de novo. To falando filho, tua mãe tem a malandragem de Aquiles. Olha, sobre a malandragem de Aquiles, é melhor você perguntar pro teu pai quando ele chegar.
Alias, vou falar pra ele buscar as suas algemas também. Ele é muito mais sociável do que eu, afinal de contas.
Teu pai já vem. Ele desceu pra comprar cerveja. Vamos comemorar a música nova que tu aprendeu a tocar.
E ó...Vamos combinar uma coisa: Tu só vai mostrar esse boletim pro teu pai amanhã, ta bom? E antes disso, tu dá pra ele aquele desenho bacana do dragão verde com um palhaço montado em cima.
Você sabe como o seu pai é chatinho com essas coisas de nota e boletim. Ele vai falar um daqueles "tua mãe resolve" e aí eu vou fazer o que? Pegar de volta seu telescópio só porque você zerou em matemática?
Essas coisas acontecem, meu filho. Essas coisas acontecem mesmo, mas nunca haverá um motivo para que eu desista de você.
Te levei pra passear e voltei suja de leite. Eu disse pra tu não brincar com a mamadeira assim, filho!
Eu te disse e tu não escutou.
Agora o que eu faço com você?
Como saio daqui assim?
Sabe, as pessoas olham, as pessoas questionam.
Mas eu sou tua mãe, não posso apontar o dedo pra tua cara e falar: Foi você! A culpa é toda sua, seu moleque mal criado.
Pois é né? Por que eu faria isso? Foi eu mesma quem te criou, filho. Se tu ta mal criado, eu que errei na condução.
Há algum tempo eu diria que foi falta de tapa na bunda, nem foi!
Fiquei sabendo que você anda aprontando todas na escola. Meu deus, eu criei um monstro! Olha filho...Isso não é legal!
Lembra do que a gente conversou? Lembra do nosso combinado? Eu acho que eu fui muito clara com relação ao dia do brinquedo:
“As algemas são para você brincar com os seus amiguinhos e amiguinhas apenas em casa". Qual parte do apenas em casa você não entendeu?
Agora terei que ir lá na escola, pedir as algemas de volta pra coordenadora.
Puta que pariu, filho. Não dá uma dessa com a mãe, né! A mãe te ama, poxa!
Você quer que pensem o que da tua mãe?
E esses não são os seus quadrinhos! Estes são os quadrinhos meus e do seu pai! Como você os achou?
Ai, filho.Você ta numa idade tão difícil viu! Filho, pelo amor de deus...A CEGONHA NÂO EXISTE!
Seu pai e eu fizemos você, sacou? Ou tu acha que nasceu bonito assim por acaso? É uma questão de encaixe perfeito de dois corpos nus, um dia você vai entender!
Sim, filho, corpos celestes. É isso aí. E não vem com essa de não pediu pra nascer. Não queria nascer? Então como você ganhou na corrida até o óvulo?
Ah, ta sem argumentos? ahhhh, vixe, vixe, vixe, a mamãe ganhou de novo. To falando filho, tua mãe tem a malandragem de Aquiles. Olha, sobre a malandragem de Aquiles, é melhor você perguntar pro teu pai quando ele chegar.
Alias, vou falar pra ele buscar as suas algemas também. Ele é muito mais sociável do que eu, afinal de contas.
Teu pai já vem. Ele desceu pra comprar cerveja. Vamos comemorar a música nova que tu aprendeu a tocar.
E ó...Vamos combinar uma coisa: Tu só vai mostrar esse boletim pro teu pai amanhã, ta bom? E antes disso, tu dá pra ele aquele desenho bacana do dragão verde com um palhaço montado em cima.
Você sabe como o seu pai é chatinho com essas coisas de nota e boletim. Ele vai falar um daqueles "tua mãe resolve" e aí eu vou fazer o que? Pegar de volta seu telescópio só porque você zerou em matemática?
Essas coisas acontecem, meu filho. Essas coisas acontecem mesmo, mas nunca haverá um motivo para que eu desista de você.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Pão com ovo
Adentrei o seleiro “Acabou a comida” foi o que eu pensei. Onde estará o Chileno das empanadas agora? Calculei mentalmente quanto de dinheiro poderia ter ainda em minha carteira e fui atrás de algo para encher a barriga. A grande surpresa gastronômica que descobri do lado de fora, foi algo maravilhosamente compatível com o meu bolso: Pão com ovo no preço de 1,50. Per-fei-to. Sentei defronte a sala de aula. Daqui posso ouvir o meu professor preferido falando sobre contos. Coisa que eu saberei logo mais. Me divirto escutando as pausas e o sotaque alemão do meu professor, agora, quase familiar depois de um semestre. É muita poesia ter um professor alemão, sabe? Com o tempo a gente se acostuma. Sentada ali naqueles degraus cheguei por um momento a me sentir menos sozinha. E assim continuei somente com essa sensação de "menos sozinha". Sempre odiei fazer as minhas refeições sozinha. Acho que o meu fim sempre foi brigar com a minha mãe durante o almoço e o jantar e ter que subir com a comida pro quarto. Um cachorro amarelo e peludo sentou-se ao meu lado e desprezou o pedaço do meu pão eu lhe ofertei. Mas gostou do ovo frito. E daí que eu só paguei 1,50? O gosto estava bom do mesmo jeito. E o chocolate derretido em minha mochila que eu comeria de sobremesa dali a pouco também, também deveria estar bom mesmo assim. Olhei ao meu redor e me senti feliz. É isso que tem pra hoje. E eu sorri ao constatar isso.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
O vento bateu na cara enquanto eu disfarçava meus olhos vermelhos.
Subimos até o topo e lá em cima nos abraçamos e combinamos que ia ficar tudo bem.
Eu disse combinamos na linha anterior, só pra ficar mais bonito e menos triste, porque eu combinei sozinha, por mais que a sua cabeça se movimentasse como quem dissesse um sim.
Eu tentei não chorar, eu tentei não deixar que a saudade corroesse todo o meu corpo frágil e quase nu. E eu me sentia tão nua, tão exposta, tão aberta.
Olhamos as estrelas lá de cima e acreditamos que um dia todas elas seriam nossas. Cada uma delas, a azul, a preta, a amarela e até aquela ali, que parecia tão difícil de ser alcançada.
Mas tu me empurraste lá de cima e eu caí rolando até o chão, esfolando a cara nos cascalhos encontrados pelo caminho.
Tu foste embora enquanto eu tomava sereno. E naquele dia eu passei frio, sozinha e jogada eu passei muito frio.
Desde então meu corpo está dolorido e eu estou toda travada novamente, as minhas costas doem, se dói, doem sim.
Mas eu juro que o meu coração dói mais. Mas esse provavelmente você não quer saber.
Eu disse combinamos na linha anterior, só pra ficar mais bonito e menos triste, porque eu combinei sozinha, por mais que a sua cabeça se movimentasse como quem dissesse um sim.
Eu tentei não chorar, eu tentei não deixar que a saudade corroesse todo o meu corpo frágil e quase nu. E eu me sentia tão nua, tão exposta, tão aberta.
Olhamos as estrelas lá de cima e acreditamos que um dia todas elas seriam nossas. Cada uma delas, a azul, a preta, a amarela e até aquela ali, que parecia tão difícil de ser alcançada.
Mas tu me empurraste lá de cima e eu caí rolando até o chão, esfolando a cara nos cascalhos encontrados pelo caminho.
Tu foste embora enquanto eu tomava sereno. E naquele dia eu passei frio, sozinha e jogada eu passei muito frio.
Desde então meu corpo está dolorido e eu estou toda travada novamente, as minhas costas doem, se dói, doem sim.
Mas eu juro que o meu coração dói mais. Mas esse provavelmente você não quer saber.
Mãozinha que aperta meu dedo.
E eu aprendi a receber o Caos. Ele é uma criança marota. Pego o caos no colo e aceito que tenho que levá-lo comigo.
Seria mais fácil deixá-lo em casa e andar sozinha. Fingir que não o tenho, fingir que não o fiz.
Mas eu o fiz e lembro desse dia, foram algumas fortes estancadas pouco abaixo do meu ventre, alguns carinhos, sorrisos e palavras doces.
E aqui está ele, é um filho. É um filho que não me deixa dormir. Pede cuidado e atenção o tempo todo.
E se eu não cuidar, ele crescerá e se tornará um homem mau, capaz de fazer uma pessoa durona chorar.
Por isso tenho que aceitá-lo e cuidar dele, o mundo já está cheio de homens maus e eu não quero formar mais um.
Se eu não cuidar...não tem ninguém. Não tem ninguém para registrá-lo, aceitá-lo e faze-lo melhor, não tem ninguém que tente educá-lo e faze-lo menos pior do que já é.
Não há disposição para cuidar de um filho nascido por acidente. E agora acredito que foi um acidente mesmo.
Um terrível acidente quando eu me encontrava sozinha no lugar errado e na hora errada ao tentar comer uma banana. E olha que eu ainda tomei o cuidado para não soltar a casca por aí, com medo de alguém escorregar.
Mas não foi um acidente. Algumas coisas não acontecem por acidente por mais que eu me esforce para acreditar que sim.
Ter um filho é tirar um pedaço de si, mas isso não me tornou mais fria, menos sensível.
Tentei fazer-me mais dura, mais seca. É necessário que alguém tenha maturidade para cuidar deste filho, mesmo que a idéia tenha sido só construir.
Nem pensamos em quebrar tudo e jogar o resto por aí. Mas ficou o resto, porque de tudo fica um pouco.
Ficou o resto e eu faço parte deste resto. Eu me sinto o resto, eu me sinto a parte que sobrou.
Mas ainda tem o Caos e é preciso cuidar dele. Podia parecer que sim, mas eu não fiz este filho sozinha, embora a responsabilidade de cuidar tenha vindo inteiramente para mim por falta de opção e excesso de omissão.
Vejo-me transpirando ao trocar as fraldas, porém, não posso enxugar meu rosto porque estou limpando toda a bosta.
Seria mais fácil deixá-lo em casa e andar sozinha. Fingir que não o tenho, fingir que não o fiz.
Mas eu o fiz e lembro desse dia, foram algumas fortes estancadas pouco abaixo do meu ventre, alguns carinhos, sorrisos e palavras doces.
E aqui está ele, é um filho. É um filho que não me deixa dormir. Pede cuidado e atenção o tempo todo.
E se eu não cuidar, ele crescerá e se tornará um homem mau, capaz de fazer uma pessoa durona chorar.
Por isso tenho que aceitá-lo e cuidar dele, o mundo já está cheio de homens maus e eu não quero formar mais um.
Se eu não cuidar...não tem ninguém. Não tem ninguém para registrá-lo, aceitá-lo e faze-lo melhor, não tem ninguém que tente educá-lo e faze-lo menos pior do que já é.
Não há disposição para cuidar de um filho nascido por acidente. E agora acredito que foi um acidente mesmo.
Um terrível acidente quando eu me encontrava sozinha no lugar errado e na hora errada ao tentar comer uma banana. E olha que eu ainda tomei o cuidado para não soltar a casca por aí, com medo de alguém escorregar.
Mas não foi um acidente. Algumas coisas não acontecem por acidente por mais que eu me esforce para acreditar que sim.
Ter um filho é tirar um pedaço de si, mas isso não me tornou mais fria, menos sensível.
Tentei fazer-me mais dura, mais seca. É necessário que alguém tenha maturidade para cuidar deste filho, mesmo que a idéia tenha sido só construir.
Nem pensamos em quebrar tudo e jogar o resto por aí. Mas ficou o resto, porque de tudo fica um pouco.
Ficou o resto e eu faço parte deste resto. Eu me sinto o resto, eu me sinto a parte que sobrou.
Mas ainda tem o Caos e é preciso cuidar dele. Podia parecer que sim, mas eu não fiz este filho sozinha, embora a responsabilidade de cuidar tenha vindo inteiramente para mim por falta de opção e excesso de omissão.
Vejo-me transpirando ao trocar as fraldas, porém, não posso enxugar meu rosto porque estou limpando toda a bosta.
O nosso amor a gente inventa pra se distrair.
A primeira noite dá um pouco de medo mesmo. Mas depois passa, você vai ver. E que seja doce.
Depois haverá outras coisas para ocupar tua cabeça, aquela que na qual, não receberá um carinho.
Esta não é a primeira vez que acontece, não é mesmo? E me arrisco em dizer, que não será a última.
Mas vai ficar tudo bem. Um sopro já te empurra pra frente. Um chute então, é capaz de te fazer andar, mesmo que cambaleando.
Pense naquela imagem, alguém te leva pra cima de uma montanha e te empurra lá de cima. Você cai rolando, batendo a cara, colecionando feridas e novas escoriações.
Normal. As feridas fecham. Algumas demoram a cicatrizar, tente esquecer da existência delas. Feridas se propagam e viram um câncer. E você não quer ter um câncer, não é mesmo?
Você não quer ver o seu cabelo caindo, correto? Pois é, filho, você não merece isso.
Você é só uma criança perdida com esperança de ganhar um carinho. Você tem quase toda a ingenuidade de uma criança. Mas vai ficar tudo bem.
É só você sair dessa esquina errada. Essa encruzilhada louca. Filho, como tu foste parar aí?
A mamãe disse tanto pra tu tomar cuidado com os homens maus.
E olha só, alguém dá um sorriso mais simpático, te conta uma história e tu já se sente à vontade para oferecer tua mãozinha e ajudar.
Não há um problema nisso, meu filho. Sei o quanto te fiz receptivo e incapaz de negar uma ajuda.
As pessoas vão te magoar e te decepcionar mesmo. Mas por favor, não deixe de acreditar em você mesmo e defender os teus princípios.
Não deixe que as pessoas façam de você, uma criatura fria.
Sei que o calor do teu abraço é capaz de aquecer e até mesmo derreter uma pedra.
Agora, levante-se deste canto. Não fique expondo as suas fragilidades. Sabe o que o que as pessoas fazem com as tuas fragilidades?
Elas pegam suas fragilidades e usam contra tu depois. E você ainda é novo, não vai saber o que fazer quando se sentir inseguro.
Tu só tem 20 anos, tem muito que bater, antes de desistir. E vai demorar pra tu criar maturidade, fio. Já aviso. Tem ainda mais uns vinte anos pela frente.
Vai logo, levanta daí. Vamos arrumar toda essa bagunça, antes que comece a acumular poeira e a gente comece a tossir.
Ficou tudo sujo de sangue. Vamos limpar tudo? Vai lá, pega um desinfetante de cheiro bom. E arruma outro pano de chão, que aquele já ta bem sujo e feio.
Vamos fio, a mamãe ta aqui. Passa o desinfetante nas paredes, mas cuidado com as rachaduras que ficaram, ta? Vai arder bastante....mas assopra que passa.
Dessa vez nós não achamos que ia machucar, mas acabamos nos machucando.
Mas vai ficar tudo bem, fio. Deixa que a mãe cuida de você.
Eu prometo que vai ficar tudo bem.
Foi só uma história boba que a mamãe inventou.
Depois haverá outras coisas para ocupar tua cabeça, aquela que na qual, não receberá um carinho.
Esta não é a primeira vez que acontece, não é mesmo? E me arrisco em dizer, que não será a última.
Mas vai ficar tudo bem. Um sopro já te empurra pra frente. Um chute então, é capaz de te fazer andar, mesmo que cambaleando.
Pense naquela imagem, alguém te leva pra cima de uma montanha e te empurra lá de cima. Você cai rolando, batendo a cara, colecionando feridas e novas escoriações.
Normal. As feridas fecham. Algumas demoram a cicatrizar, tente esquecer da existência delas. Feridas se propagam e viram um câncer. E você não quer ter um câncer, não é mesmo?
Você não quer ver o seu cabelo caindo, correto? Pois é, filho, você não merece isso.
Você é só uma criança perdida com esperança de ganhar um carinho. Você tem quase toda a ingenuidade de uma criança. Mas vai ficar tudo bem.
É só você sair dessa esquina errada. Essa encruzilhada louca. Filho, como tu foste parar aí?
A mamãe disse tanto pra tu tomar cuidado com os homens maus.
E olha só, alguém dá um sorriso mais simpático, te conta uma história e tu já se sente à vontade para oferecer tua mãozinha e ajudar.
Não há um problema nisso, meu filho. Sei o quanto te fiz receptivo e incapaz de negar uma ajuda.
As pessoas vão te magoar e te decepcionar mesmo. Mas por favor, não deixe de acreditar em você mesmo e defender os teus princípios.
Não deixe que as pessoas façam de você, uma criatura fria.
Sei que o calor do teu abraço é capaz de aquecer e até mesmo derreter uma pedra.
Agora, levante-se deste canto. Não fique expondo as suas fragilidades. Sabe o que o que as pessoas fazem com as tuas fragilidades?
Elas pegam suas fragilidades e usam contra tu depois. E você ainda é novo, não vai saber o que fazer quando se sentir inseguro.
Tu só tem 20 anos, tem muito que bater, antes de desistir. E vai demorar pra tu criar maturidade, fio. Já aviso. Tem ainda mais uns vinte anos pela frente.
Vai logo, levanta daí. Vamos arrumar toda essa bagunça, antes que comece a acumular poeira e a gente comece a tossir.
Ficou tudo sujo de sangue. Vamos limpar tudo? Vai lá, pega um desinfetante de cheiro bom. E arruma outro pano de chão, que aquele já ta bem sujo e feio.
Vamos fio, a mamãe ta aqui. Passa o desinfetante nas paredes, mas cuidado com as rachaduras que ficaram, ta? Vai arder bastante....mas assopra que passa.
Dessa vez nós não achamos que ia machucar, mas acabamos nos machucando.
Mas vai ficar tudo bem, fio. Deixa que a mãe cuida de você.
Eu prometo que vai ficar tudo bem.
Foi só uma história boba que a mamãe inventou.
Limpo os pés no pano de chão que um dia já foi uma camisa pólo.
E eu não sabia, mas acabei adentrando sem pedir licença, algo que não consigo explicar, me empurrou através daquela porta, onde vez ou outra, eu já havia encostado meu rosto e tentava enxergar pelo buraco da fechadura, o que tinha lá dentro.
Eu me perguntava intimamente, timidamente: Será que um dia haverá um lugar para mim, aí dentro?
Quando eu cheguei aqui, as paredes estavam frias e pulsavam com menos força.
Paredes que outrora foram vermelhas ficavam pretas, na medida em que o tempo ia passando.
Tornava-se cada vez mais difícil, bombear sangue para o resto do corpo, circular energia por todos os cantos da casa.
Ao chegar, passei a mão com cuidado pela parede e achei o interruptor, consegui acender uma luz.
E como era bonito aquilo tudo. Por dentro dele, era tudo bem mais bonito do que eu havia conseguido imaginar.
Algumas coisas já estavam velhas e desgastadas e sim, teriam de ser jogadas fora.
Mas havia mais que isso. Muitas mobílias que ainda davam para salvar. Que valiam a pena ser salvas.
Resolvi salvar todas, uma por uma. Pois pra mim, essas mobílias desperdiçadas ainda servem, servem muito.
Eu só precisava de um tempo. E eu queria um espaço também. O meu espaço.
Encostei-me na parede e com as costas, fui escorregando até sentar no chão.
Até sentar ali no chão daquele coraçãozinho.
Era um coração que cansado de apanhar, já estava quase parando de bater.
Até então.
Mas eu decidi ficar ali mesmo.
Com o tempo a corrente de vento diminui.
E eu sou capaz de aquecer este lugar.
Eu me perguntava intimamente, timidamente: Será que um dia haverá um lugar para mim, aí dentro?
Quando eu cheguei aqui, as paredes estavam frias e pulsavam com menos força.
Paredes que outrora foram vermelhas ficavam pretas, na medida em que o tempo ia passando.
Tornava-se cada vez mais difícil, bombear sangue para o resto do corpo, circular energia por todos os cantos da casa.
Ao chegar, passei a mão com cuidado pela parede e achei o interruptor, consegui acender uma luz.
E como era bonito aquilo tudo. Por dentro dele, era tudo bem mais bonito do que eu havia conseguido imaginar.
Algumas coisas já estavam velhas e desgastadas e sim, teriam de ser jogadas fora.
Mas havia mais que isso. Muitas mobílias que ainda davam para salvar. Que valiam a pena ser salvas.
Resolvi salvar todas, uma por uma. Pois pra mim, essas mobílias desperdiçadas ainda servem, servem muito.
Eu só precisava de um tempo. E eu queria um espaço também. O meu espaço.
Encostei-me na parede e com as costas, fui escorregando até sentar no chão.
Até sentar ali no chão daquele coraçãozinho.
Era um coração que cansado de apanhar, já estava quase parando de bater.
Até então.
Mas eu decidi ficar ali mesmo.
Com o tempo a corrente de vento diminui.
E eu sou capaz de aquecer este lugar.
Toc, toc, toc, pode entrar.
Bata os pés no tapete e pode entrar.
Tem café em cima da mesa.
A água do chuveiro ainda deve estar quente. Você pode tomar um banho. No chão tem um sabonete líquido que faz espuma.
Ali você pode esquentar sua comida e ali, você pode colocar sua garrafinha de chá para gelar.
Separei um cobertor para você. Você pode dividi-lo comigo se quiser.
Desculpe pelo colchão no chão. É o que tem pra hoje.
Sabe, às vezes, as paredes pulsam com mais força. Não precisa ficar com medo, eu estou aqui, qualquer coisa, pode chamar ta?
Fique a vontade.
Tenho poucas mobílias, eu sei.
Mas pode fazer do meu coração o teu lar, mesmo assim.
Tem café em cima da mesa.
A água do chuveiro ainda deve estar quente. Você pode tomar um banho. No chão tem um sabonete líquido que faz espuma.
Ali você pode esquentar sua comida e ali, você pode colocar sua garrafinha de chá para gelar.
Separei um cobertor para você. Você pode dividi-lo comigo se quiser.
Desculpe pelo colchão no chão. É o que tem pra hoje.
Sabe, às vezes, as paredes pulsam com mais força. Não precisa ficar com medo, eu estou aqui, qualquer coisa, pode chamar ta?
Fique a vontade.
Tenho poucas mobílias, eu sei.
Mas pode fazer do meu coração o teu lar, mesmo assim.
E não precisa abaixar a tampa do vaso.
É bem verdade, essa história de permissão. Perguntei se queria entrar e ofereci um café apenas por educação e agora você está aqui, folheado algum dos meus livros, escutando um dos meus cds que você mesmo colocou no rádio pra tocar. Daqui a pouco você vai sentar no sofá com as pernas abertas, as suas coxas apertadas dentro de um bermudão qualquer, e a sua barriga descansará em cima da braguilha e os seus chinelos estarão no tapete e daqui a pouco o cachorro vai pegar e levar para qualquer canto da casa, como num filme. Você irá abrir uma lata de cerveja e arrotar na minha frente e agora você nem pede mais desculpas, ora essa, santa intimidade! E eu não vou falar nada, porque eu nunca soube arrotar e você foi o único que sentou ao meu lado e me ensinou mesmo que achasse isso feio e tudo bem que é feio, esqueci minhas calcinhas penduradas no boxe ontem pela manhã e mesmo assim, acordamos e transamos e tinha o café, o nosso café, o café que você fez, e tinha tudo e tudo isso só porque um dia deixei você entrar sem pedir e você acabou ficando e ficando e tudo bem, é assim mesmo.
A garota que ganhava livros...
... havia ganhado um livro. Dele. E ele não era qualquer garoto. Ele era aquele garoto.
Foi aquele garoto quem escreveu o livro. Disse timidamente que havia escrito um e ela claro, pediu.
E ela sempre pedia coisas. Ele trouxe o livro, sem dedicatória alguma. “Que triste” pensou ela, “assim não é vantagem nenhuma conhecer um escritor!”.
E o livro permaneceu guardado em sua estante durante meses, junto com outros livros, outros livros que ela achava que jamais conseguiria ler.
Havia tantos livros da escola e tantas coisas pra ler!
Era uma tarde fria de começo de férias. Daquelas tardes existentes para ficar debaixo do cobertor bebericando uma bebida quente e muito doce. Não havia nada para fazer. Não havia nada que parecesse melhorar aquele mal humorzinho.
Sentia-se sozinha, repassou mentalmente todos os seus projetos para férias e decidiu começar naquele instante.
Foi até a estante e pegou o livro. De bruços, debaixo do cobertor, ela lia atentamente. Aquele livro, o livro dele.
Supreendendo-se a cada linha chegou ao final extasiada. Há muito que não lia algo tão bom e emocionante.
Era emocionante porque aquelas linhas guardavam muito talento. Essa parte a cativava por demais.
Ao chegar no final do livro, resolveu ler uma segunda vez. E dessa vez, repassar cada momento que havia achado mais legal, fazendo anotações.
Brincou de ser professora, brincou de ler a redação de um aluno. “Esse é um dos mais inteligentes” pensou. E ele era, era o mais inteligente.
Morava numa biblioteca e sabia todos os assuntos, sempre tinha um livro pra recomendar. Sempre tinha um livro pra emprestar.
E sempre tinha os brinquedos mais legais que ele levava no dia do brinquedo.
Eram colegas de classe, daqueles que sentam ao teu lado, na quinta fileira, na segunda carteira da esquerda pra direita.
Explica-te a lição e divide o lanche. E traduz o próprio livro e ainda lê em voz alta se você pedir. Faz-te acreditar que a vida é poesia.
E ela gostava de pensar que isso só acontecia porque era ela. Ela não queria ter que pedir nada e tentava não pedir nunca.
Quando ele não estava, um vazio tomava conta da sala de aula. A garota então, escutava alguém entrar na sala e olhava em direção a porta. E nunca era ele.
Naquele dia, o garoto não adivinhou que ela estava lendo o livro que ele mesmo escreveu. Perdeu o jogo de adivinhação. E olha que ele estava indo tão bem!
No livro tinha a história de um mago aprendiz que encontrava um demônio. Uma história dentre tantas outras histórias que a garota ainda esperava escutar dele.
Ela não era uma dessas garotas. Ela era aquela garota.
E naquele dia aquela garota escreveu em seu diário sobre o livro que aquele garoto havia escrito.
Porque ela leu aquele livro naquele dia e parecia que tudo ia ficar bem.
Para: Thiago, o inteligente.
Foi aquele garoto quem escreveu o livro. Disse timidamente que havia escrito um e ela claro, pediu.
E ela sempre pedia coisas. Ele trouxe o livro, sem dedicatória alguma. “Que triste” pensou ela, “assim não é vantagem nenhuma conhecer um escritor!”.
E o livro permaneceu guardado em sua estante durante meses, junto com outros livros, outros livros que ela achava que jamais conseguiria ler.
Havia tantos livros da escola e tantas coisas pra ler!
Era uma tarde fria de começo de férias. Daquelas tardes existentes para ficar debaixo do cobertor bebericando uma bebida quente e muito doce. Não havia nada para fazer. Não havia nada que parecesse melhorar aquele mal humorzinho.
Sentia-se sozinha, repassou mentalmente todos os seus projetos para férias e decidiu começar naquele instante.
Foi até a estante e pegou o livro. De bruços, debaixo do cobertor, ela lia atentamente. Aquele livro, o livro dele.
Supreendendo-se a cada linha chegou ao final extasiada. Há muito que não lia algo tão bom e emocionante.
Era emocionante porque aquelas linhas guardavam muito talento. Essa parte a cativava por demais.
Ao chegar no final do livro, resolveu ler uma segunda vez. E dessa vez, repassar cada momento que havia achado mais legal, fazendo anotações.
Brincou de ser professora, brincou de ler a redação de um aluno. “Esse é um dos mais inteligentes” pensou. E ele era, era o mais inteligente.
Morava numa biblioteca e sabia todos os assuntos, sempre tinha um livro pra recomendar. Sempre tinha um livro pra emprestar.
E sempre tinha os brinquedos mais legais que ele levava no dia do brinquedo.
Eram colegas de classe, daqueles que sentam ao teu lado, na quinta fileira, na segunda carteira da esquerda pra direita.
Explica-te a lição e divide o lanche. E traduz o próprio livro e ainda lê em voz alta se você pedir. Faz-te acreditar que a vida é poesia.
E ela gostava de pensar que isso só acontecia porque era ela. Ela não queria ter que pedir nada e tentava não pedir nunca.
Quando ele não estava, um vazio tomava conta da sala de aula. A garota então, escutava alguém entrar na sala e olhava em direção a porta. E nunca era ele.
Naquele dia, o garoto não adivinhou que ela estava lendo o livro que ele mesmo escreveu. Perdeu o jogo de adivinhação. E olha que ele estava indo tão bem!
No livro tinha a história de um mago aprendiz que encontrava um demônio. Uma história dentre tantas outras histórias que a garota ainda esperava escutar dele.
Ela não era uma dessas garotas. Ela era aquela garota.
E naquele dia aquela garota escreveu em seu diário sobre o livro que aquele garoto havia escrito.
Porque ela leu aquele livro naquele dia e parecia que tudo ia ficar bem.
Para: Thiago, o inteligente.
Enquanto a guitarra chora...
Delicadamente, gentilmente, suavemente, divido o quarto com duas meninas. Meninas mesmo. Daquelas que se vestem igual e tem sempre algo para conversar antes de dormir.
É um hotel. Lembrei dos personagens marginais que moram em hotéis. Não hotéis como este, mas por ora, quis pensar que sim.
Quis pensar na minha pessoa totalmente sozinha, escrevendo compulsivamente e morando num quarto de hotel.
Mas não, isso já existe. Tem o Chinaski, tem o Bandini, tem o Dimi.
Tem o café, tem o chuveiro, tem a roupa de cama, tem uma mesinha para escrever e um frigobar da qual não comprarei nada.
Dia dos namorados. Essa data, bem como o dia das mães e o dia dos pais e qualquer outra data convencional, não representa nada para mim.
A diferença é que se um dia eu tiver dinheiro, no dia dos pais e das mães, tem pessoas para eu presentear.
Fim de um dia na qual me encontro cansada. Tem uma festa logo mais. Uma festa na qual a todo o momento vou me perguntar "isso está mesmo acontecendo ou eu que bebi demais?".
Talvez seja a falta da bebida e aí, dou mais um gole na cerveja.
Passando os canais da Tv, noto um senhorzinho conhecido. B.B. King. Para minha surpresa, um documentário sobre Blues na Tv.
E essa é a grande promessa de companhia e diversão para esta noite. No dia dos namorados, dormirei com o B.B. King.
Mas vou tomar um banho. O chuveiro do hotel tem três tipos de jatos diferentes. Eu poderia morar debaixo daquele chuveiro.
Entendi a frase: "Vou preparar o banho". A água demora a temperar. Tem que ligar as duas torneiras, senão você congela ou você queima os braços, como eu fiz em uma das minhas tentativas de desligar uma torneira por vez.
A Tv está no último volume e lá do chuveiro consigo escutar vozes e risadas e música e penso que até parece que tem alguém ali, me sinto menos sozinha.
Eu não queria sair de debaixo deste chuveiro, nunca! O mundo lá fora, parece perigoso demais pra mim.
Mas no dia seguinte, estarei mais descansada, visitarei uma feirinha que me fará muito bem. Depois vou ler sobre tragédia grega, deitada na cama, sentindo o sol bater em meu rosto.
E elas estarão conversando sobre um assunto de meninas qualquer, e uma delas estará segurando um incenso bom para circular energia.
E os beatles estarão tocando suas músicas mais melancólicas, no iphone em cima da cama ao lado.
Mas sabe, aquele papel higiênico e aquelas toalhas...não são tão macios.
Tudo muito bonito, tudo muito impessoal.
É um hotel. Lembrei dos personagens marginais que moram em hotéis. Não hotéis como este, mas por ora, quis pensar que sim.
Quis pensar na minha pessoa totalmente sozinha, escrevendo compulsivamente e morando num quarto de hotel.
Mas não, isso já existe. Tem o Chinaski, tem o Bandini, tem o Dimi.
Tem o café, tem o chuveiro, tem a roupa de cama, tem uma mesinha para escrever e um frigobar da qual não comprarei nada.
Dia dos namorados. Essa data, bem como o dia das mães e o dia dos pais e qualquer outra data convencional, não representa nada para mim.
A diferença é que se um dia eu tiver dinheiro, no dia dos pais e das mães, tem pessoas para eu presentear.
Fim de um dia na qual me encontro cansada. Tem uma festa logo mais. Uma festa na qual a todo o momento vou me perguntar "isso está mesmo acontecendo ou eu que bebi demais?".
Talvez seja a falta da bebida e aí, dou mais um gole na cerveja.
Passando os canais da Tv, noto um senhorzinho conhecido. B.B. King. Para minha surpresa, um documentário sobre Blues na Tv.
E essa é a grande promessa de companhia e diversão para esta noite. No dia dos namorados, dormirei com o B.B. King.
Mas vou tomar um banho. O chuveiro do hotel tem três tipos de jatos diferentes. Eu poderia morar debaixo daquele chuveiro.
Entendi a frase: "Vou preparar o banho". A água demora a temperar. Tem que ligar as duas torneiras, senão você congela ou você queima os braços, como eu fiz em uma das minhas tentativas de desligar uma torneira por vez.
A Tv está no último volume e lá do chuveiro consigo escutar vozes e risadas e música e penso que até parece que tem alguém ali, me sinto menos sozinha.
Eu não queria sair de debaixo deste chuveiro, nunca! O mundo lá fora, parece perigoso demais pra mim.
Mas no dia seguinte, estarei mais descansada, visitarei uma feirinha que me fará muito bem. Depois vou ler sobre tragédia grega, deitada na cama, sentindo o sol bater em meu rosto.
E elas estarão conversando sobre um assunto de meninas qualquer, e uma delas estará segurando um incenso bom para circular energia.
E os beatles estarão tocando suas músicas mais melancólicas, no iphone em cima da cama ao lado.
Mas sabe, aquele papel higiênico e aquelas toalhas...não são tão macios.
Tudo muito bonito, tudo muito impessoal.
A água ainda deve estar quente.
Foi o jeito que eu dei pra achar um pouco de poesia na solidão e na dor.
Uma vez perguntaram a ele o que ele fazia quando algo acabava e então ele disse "Eu transformo". E eu guardei com tanto carinho aquela informação.
Arquivei junto com aquele ensinamento - que aprendi com ele também - sobre o "conhecimento funcionar com sobreposição" que eu inutilmente passei para frente na minha aula de linguística.
Desde então venho tentando sobrepor e transformar, mas as vezes me demoro.
As vezes só consigo pensar ao sentir a água quente do chuveiro escorrendo em meus cabelos curtos, batendo em minha nuca.
E eu sinto o cheiro do novo shampoo e busco em minha memória, alguma lembrança já esquecida.
Olho com alguma mágoa para as calcinhas que eu pendurei numa torneira que um dia já fez jorrar água em uma banheira.
Calcinhas que já viram melhores dias. Calcinhas que preciso pendurar no meu varal. Não há mais calcinhas em minhas gavetas, acho que é o momento de comprar calcinhas novas.
Eu peguei creme demais. Daqueles cremes de pote que quando a gente passa, escorre pelo rosto e ainda assim, achamos que o nosso cabelo estará salvo.
Eu queria um cachorro amarelo e sorridente que me esperasse melancolicamente, com a cabeça entre as patas, abaixado na porta, enquanto eu não chego.
Eu queria um gato vagabundo como eu, só meu, que olhasse pra mim e pensasse "Essa é a minha humana, é a humana que eu escolhi. e esse é o meu cachorro, e essa a minha cama, e esse meu sofá e esse meu canto
e essa é a minha cadeira, mas a minha humana acha que ela é dona de tudo isso só porque ela comprou". E ele saberá que nós somos donos apenas do que nós escolhemos e talvez apenas ainda, do que nos escolhe.
Eu ainda penso sobre a morte que aguça a minha curiosidade. A morte do lado de lá. Do lado de cá eu choro, do lado de lá eu nem sei, eu nem sei que já morri.
Lá de longe vem uma música que está tocando no rádio, algum heavy metal. Parece que tem alguém.
Eu já percebi como troco de assunto a cada linha. Eu posso estar feliz, mas a solidão estará sempre aqui.
Ela apareceu na primeira linha e na antepenúltima, enquanto transformo o frio no calor, numa prosa sobre a dor.
Uma vez perguntaram a ele o que ele fazia quando algo acabava e então ele disse "Eu transformo". E eu guardei com tanto carinho aquela informação.
Arquivei junto com aquele ensinamento - que aprendi com ele também - sobre o "conhecimento funcionar com sobreposição" que eu inutilmente passei para frente na minha aula de linguística.
Desde então venho tentando sobrepor e transformar, mas as vezes me demoro.
As vezes só consigo pensar ao sentir a água quente do chuveiro escorrendo em meus cabelos curtos, batendo em minha nuca.
E eu sinto o cheiro do novo shampoo e busco em minha memória, alguma lembrança já esquecida.
Olho com alguma mágoa para as calcinhas que eu pendurei numa torneira que um dia já fez jorrar água em uma banheira.
Calcinhas que já viram melhores dias. Calcinhas que preciso pendurar no meu varal. Não há mais calcinhas em minhas gavetas, acho que é o momento de comprar calcinhas novas.
Eu peguei creme demais. Daqueles cremes de pote que quando a gente passa, escorre pelo rosto e ainda assim, achamos que o nosso cabelo estará salvo.
Eu queria um cachorro amarelo e sorridente que me esperasse melancolicamente, com a cabeça entre as patas, abaixado na porta, enquanto eu não chego.
Eu queria um gato vagabundo como eu, só meu, que olhasse pra mim e pensasse "Essa é a minha humana, é a humana que eu escolhi. e esse é o meu cachorro, e essa a minha cama, e esse meu sofá e esse meu canto
e essa é a minha cadeira, mas a minha humana acha que ela é dona de tudo isso só porque ela comprou". E ele saberá que nós somos donos apenas do que nós escolhemos e talvez apenas ainda, do que nos escolhe.
Eu ainda penso sobre a morte que aguça a minha curiosidade. A morte do lado de lá. Do lado de cá eu choro, do lado de lá eu nem sei, eu nem sei que já morri.
Lá de longe vem uma música que está tocando no rádio, algum heavy metal. Parece que tem alguém.
Eu já percebi como troco de assunto a cada linha. Eu posso estar feliz, mas a solidão estará sempre aqui.
Ela apareceu na primeira linha e na antepenúltima, enquanto transformo o frio no calor, numa prosa sobre a dor.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Stray Cat
Tem dias em que eu torço para que tudo acabe logo.
A única coisa que eu quero é que hoje seja melhor que ontem.
Eu só quero que hoje termine bem para que eu pense que o dia de alguma forma melhorou.
Eu tenho algumas moedas na carteira e tudo bem, porque meu pescoço mantém minha cabeça presa e o meu olhar continua seguindo para frente.
E tudo bem se eu estou com fome e só vou comer daqui a quatro horas, tá tudo bem.
Eu vou acender o meu cigarro e me sentir menos sozinha, eu vou parecer distraída agora e ninguém vai me notar.
Gosto quando a fumaça sai distraidamente sem esforço algum fazendo um desenho no ar e dispersando-se no vento.
Eu fumo um, eu fumo dois, eu fumo dois e três em uns dez minutos. E o vento me bate na cara e sinto uma nostalgia e eu só queria que tudo ficasse bem.
Eu só queria conseguir concluir todas as minhas tarefas, eu só queria me sentir menos insegura, eu só queria uma caralhada de coisas.
E em dez minutos que estou aqui, fingindo pensamentos vazios, duas pessoas já vieram me pedir um isqueiro emprestado.
Que tipo de fumante vocês são, que não tem um isqueiro? Sou fumante de dias pobres e carrego comigo um isqueiro.
Sempre quando acendo o cigarro jogo o isqueiro na mochila e depois ele some. Às vezes tenho vontade de sumir junto com ele.
Aprendi a baforar o gás, aprendi a bater a cinza de forma menos ansiosa. Aprendi que o café me traz o mesmo gosto do cigarro.
E eu sempre quero escovar os dentes depois do cigarro. Mas hoje não tem escova, hoje não tem pasta de dente. Mas tá tudo bem.
Eu comi aquela pizza de barraquinha, aquele suco barato e aquele chocolate com gosto de infância e parecia que ia ficar tudo bem.
Alguém vai me dar uma carona. Talvez esse alguém, tente abusar de mim durante essa carona.
Mas vai ficar tudo bem.
Aquele dia eu te fiz prometer que não iria me sequestrar. E você disse que não o faria, nem roubaria meus rins.
Talvez eu fosse só mais um cigarro, daqueles que a gente fuma delicadamente e mesmo assim acaba quando chega no filtro.
Sequestrasse, levasse um rim, mas deixasse esse pedaço do meu coração que ficou com você.
A única coisa que eu quero é que hoje seja melhor que ontem.
Eu só quero que hoje termine bem para que eu pense que o dia de alguma forma melhorou.
Eu tenho algumas moedas na carteira e tudo bem, porque meu pescoço mantém minha cabeça presa e o meu olhar continua seguindo para frente.
E tudo bem se eu estou com fome e só vou comer daqui a quatro horas, tá tudo bem.
Eu vou acender o meu cigarro e me sentir menos sozinha, eu vou parecer distraída agora e ninguém vai me notar.
Gosto quando a fumaça sai distraidamente sem esforço algum fazendo um desenho no ar e dispersando-se no vento.
Eu fumo um, eu fumo dois, eu fumo dois e três em uns dez minutos. E o vento me bate na cara e sinto uma nostalgia e eu só queria que tudo ficasse bem.
Eu só queria conseguir concluir todas as minhas tarefas, eu só queria me sentir menos insegura, eu só queria uma caralhada de coisas.
E em dez minutos que estou aqui, fingindo pensamentos vazios, duas pessoas já vieram me pedir um isqueiro emprestado.
Que tipo de fumante vocês são, que não tem um isqueiro? Sou fumante de dias pobres e carrego comigo um isqueiro.
Sempre quando acendo o cigarro jogo o isqueiro na mochila e depois ele some. Às vezes tenho vontade de sumir junto com ele.
Aprendi a baforar o gás, aprendi a bater a cinza de forma menos ansiosa. Aprendi que o café me traz o mesmo gosto do cigarro.
E eu sempre quero escovar os dentes depois do cigarro. Mas hoje não tem escova, hoje não tem pasta de dente. Mas tá tudo bem.
Eu comi aquela pizza de barraquinha, aquele suco barato e aquele chocolate com gosto de infância e parecia que ia ficar tudo bem.
Alguém vai me dar uma carona. Talvez esse alguém, tente abusar de mim durante essa carona.
Mas vai ficar tudo bem.
Aquele dia eu te fiz prometer que não iria me sequestrar. E você disse que não o faria, nem roubaria meus rins.
Talvez eu fosse só mais um cigarro, daqueles que a gente fuma delicadamente e mesmo assim acaba quando chega no filtro.
Sequestrasse, levasse um rim, mas deixasse esse pedaço do meu coração que ficou com você.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
E tudo ficou mais vazio.
“Foi morar com o papai do céu” - era o que ela costumava me dizer.
Foi como minha mãe me explicou que um dia as pessoas vão embora para sempre, foi o jeito mais poético de me fazer entender que havia pessoas da minha família que eu não conheci e nem iria conhecer. Foi o jeito de justificar o fato de eu nunca mais poder ver os Mamonas Assassinas tocando ao vivo na tv e nem em nenhum outro lugar.
Minha primeira questão de ordem prática com a morte além de querer saber o que era morte e aonde as pessoas iam parar depois disso, foi querer entender o porquê da morte.
Quando eu não queria dividir minhas coisas, minha vó me chamava de egoísta. E eu sabia o que significava essa palavra, mais do que a palavra morte.
”Mãe, o papai do céu é egoísta? Por que ele quer tantas pessoas morando com ele?”.
Mas essa pergunta ela nunca me explicou o porquê, sabe.
E hoje o dia acordou tão cinzento que eu acho que ele não vai melhorar não...
Foi como minha mãe me explicou que um dia as pessoas vão embora para sempre, foi o jeito mais poético de me fazer entender que havia pessoas da minha família que eu não conheci e nem iria conhecer. Foi o jeito de justificar o fato de eu nunca mais poder ver os Mamonas Assassinas tocando ao vivo na tv e nem em nenhum outro lugar.
Minha primeira questão de ordem prática com a morte além de querer saber o que era morte e aonde as pessoas iam parar depois disso, foi querer entender o porquê da morte.
Quando eu não queria dividir minhas coisas, minha vó me chamava de egoísta. E eu sabia o que significava essa palavra, mais do que a palavra morte.
”Mãe, o papai do céu é egoísta? Por que ele quer tantas pessoas morando com ele?”.
Mas essa pergunta ela nunca me explicou o porquê, sabe.
E hoje o dia acordou tão cinzento que eu acho que ele não vai melhorar não...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Um oi e um sorriso.
Pode entrar. Fique a vontade, a casa é tua.
Aqui em cima você pode ver algumas das republicações dos meus textos, os textos que eu gosto mais.
E ali, você pode encontrar um pouco (bem pouco!) sobre mim e também tem uma foto minha. Eu sou assim.
Desculpe-me por não ter um café para te oferecer, é que eu não esperava a tua visita.
Mas pode abrir a geladeira e procurar algo que te agrade.
Pode convidar os amigos para me visitar também, se você quiser. Sempre cabe mais um não é?
E não precisa tirar os sapatos. O tapete é sujo assim mesmo, mas a sua opinião será sempre bem vinda.
Aqui em cima você pode ver algumas das republicações dos meus textos, os textos que eu gosto mais.
E ali, você pode encontrar um pouco (bem pouco!) sobre mim e também tem uma foto minha. Eu sou assim.
Desculpe-me por não ter um café para te oferecer, é que eu não esperava a tua visita.
Mas pode abrir a geladeira e procurar algo que te agrade.
Pode convidar os amigos para me visitar também, se você quiser. Sempre cabe mais um não é?
E não precisa tirar os sapatos. O tapete é sujo assim mesmo, mas a sua opinião será sempre bem vinda.
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