Eu estava sentada em
uma mesa retangular de pernas cruzadas e na minha frente havia muitos
adolescentes. Eu perguntava quem já havia prestado vestibular, quem queria um
curso de exatas, biológicas ou humanas - este último me causou uma certa
pontada no estômago. Uma amiga me ligou e me chamou pra dar um rolê, eu disse que
não podia porque estava dando aula. Então, aquela situação era uma aula.
Aqueles adolescentes eram alunos e eu...professora. Eles pediam para eu falar
maisalto e eu achava isso estranho
porque sei que normalmente meu tom de voz é alto. Então, eu pensava: Não estou
sendo ouvida, tem alguma coisa me silenciando - enquanto tentava aumentar meu
tom de voz e projetar até os meninos da última fileira. Mas era inútil. Era
como um daqueles sonhos que você tenta gritar "mãe!, mãe!" mas a sua
voz não sai, sabe? Eu sentia meu corpo doendo. Ele me acordou e ao abrir os
olhos lembrei desta sensação de agressão. E da voz que é silenciada. Eu lembrei
das coisas que estão acontecendo e me senti um pouco mais fraca e com dor nas
costas do que de costume.
Estou muito nervosa
com tudo isso que rolou no Paraná e desesperançosa porque não é a primeira vez
que alguma coisa desse tipo acontece e tudo fica de boa. Eu lembrei que estou
matriculada num curso de licenciatura e agora estou me questionando, eu tenho coragem
para ser professora e viver o sistema educacional deste país?
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