O sistema estava demorando
para funcionar e o empréstimo demorando mais do que o previsto. O cara
perguntou se ela era bibliotecária e ela disse que não, disse que faz
letras. Ele perguntou que língua ela estudava no curso de letras e ela
respondeu honestamente, inocentemente, naquele tom de quem responde bom dia no
elevador porque é obrigada: espanhol.
E aí o cara achou que era
muito bacana cantar a moça no ambiente de trabalho dela e mandou a cantada mais
clichê que poderia existir:
- Espanhol é a língua mais
sexy. Adoro mulheres que falam espanhol.
E ela que até pensava a
mesma coisa achou o cara um imbecil predador por manifestar isso
desnecessariamente e imaginou que legal seria ter essa liberdade de fazer e
manifestar o que quer que esse cara achava que tinha. Daria para pegar a cabeça
dele e quebrar toda a arcada dentária do cara naquele balcão. Seria ótimo
mesmo.
Mas a vida é assim: algumas
pessoas tem (acham que tem) a liberdade de dizer e fazer o que querem, invadir
o espaço alheio, sabe. Outras não.
E mais sexy que o espanhol
só o silêncio, né? Essa capacidade rara que muitas pessoas ainda não
conseguiram desenvolver para evitar falar merda e agir de forma mais humana,
menos animal.
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