I
Você me encontrará jogada na sarjeta com um maço de cigarros amassados em meu bolso traseiro e uma garrafa de pinga barata em mãos.
Dessa vez nem os cachorros de rua lamberão as minhas feridas, eu estarei toda imunda com as roupas rasgadas e as unhas por fazer.
Meu tênis desamarrado e o meu cabelo ensebado deixarão claro que eu desisti.
Eu desisti de tudo, de mim e de você.
Eu desisti da vida.
Agora eu larguei os cavalos e aposto apenas em meus delírios.
II
Não. Não vá embora por favor. Fica, fica, eu preparo o teu jantar.
Eu te dou um banho quente, eu ponho a mesa, eu faço o café. Eu te empresto o meu cobertor.
Eu....eu te dou aquele meu disco que você gostava tanto, sim, aquele que escutamos em nosso primeiro encontro, sabe?
Eu lembro de quando você chegou. Você me ofereceu um cigarro e eu aceitei fazer parte da sua vida, pra sempre.
Por favor, fica. Está chovendo, você vai se molhar e ficar doente. Não quero que você fique doente. Minhas aspirinas acabaram na semana passada.
Não vá, te peço.
III
Depois daquele dia as coisas nunca mais foram as mesmas. Estariam agora condicionados a fazer as refeições em silêncio escutando apenas o chiado vindo da televisão.
Você está errado, cara - ela disse - você está sempre errado.
Jamais assumiriam para si mesmos mas havia o cachorro. O cachorro o qual nenhum dos dois estava disposto a abrir mão.
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