domingo, 15 de abril de 2012

Noite feliz

O aniversário chegou mais cedo neste ano. Ganhou uma caixa de livros dela, a moça da caixa de livros. Uma caixa cheia deles.
- Vem aqui no carro, você pode escolher quais livros você quer levar.
Livros são como animais e pessoas disponíveis na adoção. É doloroso não poder escolher todos, contudo, desta vez podia.
Sem ação disse um "ahh?" e lá estava a caixa, organizada com os livros empilhados.
Meio descrente observou enquanto eles mexiam nos livros. Um deles havia uma dedicatória.
- Olha, este aqui tem uma dedicatória, você não vai pegar de volta?
- Este? Não, ela não é mais minha amiga, pode levar.
Sentiu uma tristeza horrível ao escutar isso. Alguém teve a oportunidade de estar ali, naquele coração e não estava mais.
Por outro lado, uma caixa de livros anunciava uma porta aberta, se alguém estivera ali e não estava mais, havia espaço livre, portanto.
Disse um obrigada provavelmente vazio diante de uma caixa de livros, um gesto tão generoso.
Chegou em casa e depositou a caixa no piso de madeira. Sentada com as pernas em volta da caixa pegou um por um dos livros como em uma manhã de natal em que se acredita que o Papai Noel esteve ali deixando um presente maravilhoso debaixo do pinheirinho cheio de bolas e anjos pudicos com harpas, pisca-pisca com defeito e cheiro de mato.
Um Cesário Verde chamou a atenção. Cheio de anotações dentro de suas páginas guardando memórias de um aprendizado.
Sobre isso, ela, a moça da caixa de livros, já havia comentado anteriormente em outra ocasião:
- Os textos estão anotados assim porque é livro de professor, vocês sabem!
Sabia. Anotações feitas por uma letra agora já familiar. Outrora brincou de analisar grifo por grifo de uma xerox. O texto deveria estar demasiadamente chato, mas agora as coisas seriam diferentes, depois de uma caixa de livros seu problema de concentração com certeza seria curado.
Folheou o Cesário Verde, tão cânone, tão distante. Ranz disse uma vez que quando alguém trazia algo de sua casa, este algo vinha com o cheiro da casa de origem.
Pandora reconheceu o cheiro dos gatos, visto que não queria sair da caixa de forma alguma.
E o Camões guardava dentro de si um fio de cabelo dela. Deixou ali.Encantada com o presente, a caixa de livros, pensou que algumas pessoas é que são um presente. Um presente muito grande.

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