segunda-feira, 2 de abril de 2012

Lição de casa.

Para Raquel

Não uso o coração. Sim, é o meu coração que me usa. Pois é, o próprio.
Tem a mim como sua fachada, sua portinha com fechadura redonda, com o tapete estirado abaixo do rodapé. Vez ou outra ele admite:
- É ela. A minha humana.
Outrora conversamos:
- O dia está horrível.
Ele emite um sinal. Sinto que é hora de tomar uma água, um ar.
Correr na esteira, carinho na Pandora, ler, escrever, assistir uma aula de Literatura Portuguesa, trabalhar, fazer as unhas, roer estas unhas, tomar um café, fumar cigarros, transar, dormir, acordar, tudo.
É ele que manda em tudo. Não raro eu penso:
- Escutar aquelas palavras aqueceu meu coração.
Ou:
- Comer aqueles chocolates deixou o meu coração bem mais feliz e sorridente.
É tudo coisa dele. Ele que bate, eu apanho.
As coisas tem que ser assim. Se eu desapontar meu coração, ele pára e nunca mais volta a bater.


(Este texto escrevi durante a aula de Literatura Portuguesa, lemos um poema do Pessoa, chamado "isto" e ele diz que não usa o coração. Eu disse que é o meu coração que me usa e a professora disse - ÉEE, escreve sobre isso depois. Mas ela não sabe que eu escrevo, claro.)

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