Essa história de oposição começou cedo na família Guanaes que residia naquela época, um sobradinho de aluguel numa rua de paralelepípedos da Vila Medeiros, que outrora, fora uma fazenda, guardando o seu quê de província, o que depois viria a ser um problema para a protagonista deste texto que na verdade, eu, a autora, não sei bem como terminar.
Nasceu no inverno de 1990 mesma época de sua mãe, muitas vezes escutou “Depois de você ninguém mais lembrou-se do meu aniversário!”. Canceriana com ascendente em leão, algo muito controverso, tendo em vista que a criança era tímida e extrovertida ao mesmo tempo. Era menina mas gostava de azul. Lutou pelo direito ao azul desde a época dos brinquedos de montar feitos de plásticos que ao serem pisados doíam o pé. Pediu muitas vezes um skate no dia das crianças, usava o chinelo do Senninnha que apenas os meninos tinham. Usava boné para trás e bermudão. Odiava cabelo solto. Aquele carrinho de controle remoto que nunca veio. Depois de muito tempo, o pai abriu mão de sua companhia na missa. Ela dormia enquanto o padre falava, sentada no primeiro banco, chegando até a babar.
- Como assim, largar o ballet? Depois de tantos anos?
- Meu negócio é o teatro, oras.
Os caras mais velhos, sete anos mais velho no mínimo e não se fala mais nisso. Decididamente, matemática não. Se for para continuar na escola estudando isso, eu prefiro morrer!
Líder negativa aos 17, chamada na coordenação. Acusação: Dizia não querer fazer as lições e todo mundo deixava de fazer também. Estudou na mesma escola durante 15 anos de sua existência, todo mundo te conhece e você não tem tantos amigos. – Tenho critério em minhas escolhas – foi o que ela disse.
No cursinho essa parte aflorou mais. Amiga do cervejeiro, do evangélico que virou cervejeiro, do outro que também virou cervejeiro e das sapas. Aula de redação, o caralho. Cerveja e bilhar.
- Como assim francês na faculdade? Mas você nem sabe inglês...
3ª chamada. Nossa você vai estudar aqui? E trabalhar? Largar o teatro? Vender xerox com o namorado. E ele precisa morar aqui por um mês, tudo certo? Cama de solteira para dois, escrivaninha para dois, 2 aos 20. Depois, mudança para perto do metrô, finalmente.
Energético no café da manhã, banho frio, unhas azuis roídas, rocknroll, blues.
Ansiosa, nervosa, estressada. – Eu achava você marrenta antes de te conhecer, depois vi que você era uma fofa.
Cigarros sim, mas mentolados, cravados e sem tragar, odeia cheiro de cigarro.
Sempre se lembra da professora de artes dizendo – Estou falando isso, porque gosto de você, você sabe que eu gosto de você, mas você vai sofrer muito porque fica dando a sua opinião!
Ela sofre muito, mas esses roxos e cicatrizes não importam. “Pelega” é uma palavra pouca perto de tudo que já aconteceu em 21 anos.
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