quarta-feira, 4 de abril de 2012

“Ta difícil ser eu sem reclamar de tudo”

Essa história de oposição começou cedo na família Guanaes que residia naquela época, um sobradinho de aluguel numa rua de paralelepípedos da Vila Medeiros, que outrora, fora uma fazenda, guardando o seu quê de província, o que depois viria a ser um problema para a protagonista deste texto que na verdade, eu, a autora, não sei bem como terminar.
Nasceu no inverno de 1990 mesma época de sua mãe, muitas vezes escutou “Depois de você ninguém mais lembrou-se do meu aniversário!”. Canceriana com ascendente em leão, algo muito controverso, tendo em vista que a criança era tímida e extrovertida ao mesmo tempo. Era menina mas gostava de azul. Lutou pelo direito ao azul desde a época dos brinquedos de montar feitos de plásticos que ao serem pisados doíam o pé. Pediu muitas vezes um skate no dia das crianças, usava o chinelo do Senninnha que apenas os meninos tinham. Usava boné para trás e bermudão. Odiava cabelo solto. Aquele carrinho de controle remoto que nunca veio. Depois de muito tempo, o pai abriu mão de sua companhia na missa. Ela dormia enquanto o padre falava, sentada no primeiro banco, chegando até a babar.
- Como assim, largar o ballet? Depois de tantos anos?
- Meu negócio é o teatro, oras.
Os caras mais velhos, sete anos mais velho no mínimo e não se fala mais nisso. Decididamente, matemática não. Se for para continuar na escola estudando isso, eu prefiro morrer!
Líder negativa aos 17, chamada na coordenação. Acusação: Dizia não querer fazer as lições e todo mundo deixava de fazer também. Estudou na mesma escola durante 15 anos de sua existência, todo mundo te conhece e você não tem tantos amigos. – Tenho critério em minhas escolhas – foi o que ela disse.
No cursinho essa parte aflorou mais. Amiga do cervejeiro, do evangélico que virou cervejeiro, do outro que também virou cervejeiro e das sapas. Aula de redação, o caralho. Cerveja e bilhar.
- Como assim francês na faculdade? Mas você nem sabe inglês...
3ª chamada. Nossa você vai estudar aqui? E trabalhar? Largar o teatro? Vender xerox com o namorado. E ele precisa morar aqui por um mês, tudo certo? Cama de solteira para dois, escrivaninha para dois, 2 aos 20. Depois, mudança para perto do metrô, finalmente.
Energético no café da manhã, banho frio, unhas azuis roídas, rocknroll, blues.
Ansiosa, nervosa, estressada. – Eu achava você marrenta antes de te conhecer, depois vi que você era uma fofa.
Cigarros sim, mas mentolados, cravados e sem tragar, odeia cheiro de cigarro.
Sempre se lembra da professora de artes dizendo – Estou falando isso, porque gosto de você, você sabe que eu gosto de você, mas você vai sofrer muito porque fica dando a sua opinião!
Ela sofre muito, mas esses roxos e cicatrizes não importam. “Pelega” é uma palavra pouca perto de tudo que já aconteceu em 21 anos.

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