Ela tinha 16 anos. Era um dia como todos os outros. Acordou de mau humor, desceu para a cozinha, tomou um cappuccino na sua caneca preferida, foi até o banheiro, fez xixi e escovou os dentes, voltou para o quarto, vestiu o uniforme da escola todo surrado e jogou o material escolar na mochila.
Foi torcendo pra morrer no percurso do quarto até o carro, mas não deu certo. Entrou no carro e do banco de trás pediu ao pai para que sintonizasse o rádio na rádiorock.
Começou a tocar uma canção que havia tocado na mesma hora, mesmo lugar no dia anterior. Achou que não conhecia a música ou não lembrava de conhecer. Pela sonoridade e pela voz, presumiu que fosse do Bob Dylan, mesmo sem conhecer muito bem o cara.
Sabe, quando você escuta uma canção e se apaixona na mesma hora? É isso. Agora chamaria isso de formação discursiva, mas naquele dia não encontrou explicação.
Entorpecida, batendo a cabeça no banco do carro de casa até a escola. O mundo passava a ser seu quando escutava alguma canção que a fascinava.
Não desceu do carro até o locutor falar de quem era aquela canção. Era do Bob Dylan mesmo.
E ele era fantástico. Meu Deus do céu, que violão, que gaita, que voz, que pagada.
A canção como descobriu após vasculhar a discografia dele chama-se "The Hurricane".
E permaneceu em sua cabeça, junto com a voz de Bob Dylan o dia todo.
Será que amanhã ele virá novamente? – ela pensava.
Já ouvi dizer que quando passamos muito tempo pensando na mesma pessoa e ficamos esperando pra encontrá-la todos os dias, é porque estamos apaixonados.
(Este texto eu escrevi no dia 14 de fevereiro de 2007. Revisei e passei a narração para terceira pessoa. Este episódio aconteceu de verdade. Neste mesmo ano Bob Dylan fez um show no Brasil que eu não puder ir porque eu estava ensaiando a peça "Primavera". Amanhã Bob Dylan fará uma apresentação em São Paulo e eu estarei lá.)
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