sexta-feira, 17 de julho de 2015

constatações


I
Houve uma eleição muito marcante durante a minha infância em que um dos políticos distribuía de brinde uma estrela de xerife.
Eu sempre adorei o universo faroeste e quando um amiguinho da escola me arranjou uma estrela de xerife, eu fiquei maravilhada por ganhar um artefato faroeste.
Eu andei muitas vezes com essa estrela de xerife. Eu gostava dela e ela era parecida com aquelas que eu via na tv. As minhas bonecas também chegaram a usa-la em algumas ocasiões. Mas a minha estrelinha tinha o nome de um xerife específico. E eu sabia que fora ele o responsável pela distribuição de todas aquelas estrelinhas e a nossa onda de ir pra escola com estrela de xerife. O nome dele é Romeu Tuma.
Aposto que você que tá lendo isso e estudou história do Brasil já deve ter ouvido falar dele.
O Romeu Tuma foi um dos responsáveis pelo sumiço de vários desaparecidos políticos durante a nossa ditadura.



II

Gosto de acompanhar os meus pais nos rolês deles. Nem sempre dá, é verdade. Mas eu sou canceriana, sabe como é, adoro ver as pessoas sorrindo, principalmente meus pais. Bom, meus pais agora gostam muito de ir em shows. Shows que eu não iria, mas como eles vão, eu tento ir sempre pra fazer companhia, claro. Eles são ecléticos. Quando é um show tipo Daniel, eles não me chamam porque sabem que eu não vou, mesmo pagando todas as budweisers que eu conseguir beber. Alguns outros eles tentam, tipo o Roupa Nova e aí eu aceito porque parece suportável e um esforço razoável por eles. Eu não conheço tanto Roupa nova pra saber se eu gosto deles ou não. Foi pensando no "eu perguntava tu e o holandês" e alguns outros clássicos deles que tocava nas novelas e festas de dias das mães como "dona" que eu aceitei este convite. Por indicação do meu velho pai, liguei agora no netflix pra ver um show deles, pra não ir tão perdida no tal show, pros meus velhos não ficarem com vergonha de mim por eu não estar tão informada sobre os últimos sucessos do roupa nova.
E já me arrependi. Tem uma música deles em que eles tocam num barco que está em algum rio de Londres. E o guitarrista é um tiozão que toca uma guitarra da Hello Kitty. Por que ele usa uma guitarra rosa da Hello Kitty? Qual a mensagem por trás disso?

Talvez eu demore um tempo a sacar esta bem como o que eles queriam dizer com essa de "eu perguntava tu e o holandês e te abraçava tu e o holandês".
Quando adolescente fiquei com um carinha. Eu gostava dele mas ele, acho que não gostava tanto de mim. Ele disse que a vida era uma partida de futebol, que as coisas tinham um fim. Então depois um mês já éramos apenas um contato de msn um do outro e muito tempo depois ele me chamou para ir num rolê. Mas dois anos já haviam passado, eu já havia avançado nas minhas leituras, conhecia outras pessoas, outros carinhas. Mas eu aceitei o convite do carinha para ir num show de uma banda que eu já tinha gostado. Um daqueles dias em que não há nada melhor para fazer. E lá no show, espremida no meio da multidão com esse carinha que eu tinha gostado uns dois anos antes, vendo essa banda que eu também já não gostava tanto há um tempo, percebi o meu grande erro e pensei: algumas coisas do passado, é melhor que fiquem no passado pra não ficar pior. Dois anos fazem muita diferença, não tinha nada a ver estar ali, eu afinal de contas, já havia passado da idade de gostar daquele cara e daquela banda. Então como uma Cinderela que tem que voltar pra casa, eu disse que precisava ir embora! Porque naquela época, tinha uma coisa que eu já não era: obrigada! Naquela virada cultural subi as escadas do metrô anhangabaú e lá na parte de cima do metrô dei sequencia ao meu rolê, que ficou muito melhor porque eu havia enterrado o carinha e acabei encontrando por acaso alguns amigos na famigerada praça do piano.
O msn caiu em desuso e nunca mais fiquei sabendo do tal carinha.
Ontem pela manhã eu estava no busão e o carinha apareceu, acho que nem me viu ou reconheceu. Que bom!

E eu pensei que se a vida é uma partida de futebol que bom que é isso de ter um fim porque pensando bem esse cara é tipo o Brasil naquela partida da copa em que a Alemanha ganhou de 7x1: quando a gente acha que não dá pra piorar, piora e a gente lembra e sente vergonha.
O sistema estava demorando para funcionar e o empréstimo demorando mais do que o previsto. O cara perguntou se ela era bibliotecária e ela disse que não, disse que faz letras. Ele perguntou que língua ela estudava no curso de letras e ela respondeu honestamente, inocentemente, naquele tom de quem responde bom dia no elevador porque é obrigada: espanhol.
E aí o cara achou que era muito bacana cantar a moça no ambiente de trabalho dela e mandou a cantada mais clichê que poderia existir:
- Espanhol é a língua mais sexy. Adoro mulheres que falam espanhol.
E ela que até pensava a mesma coisa achou o cara um imbecil predador por manifestar isso desnecessariamente e imaginou que legal seria ter essa liberdade de fazer e manifestar o que quer que esse cara achava que tinha. Daria para pegar a cabeça dele e quebrar toda a arcada dentária do cara naquele balcão. Seria ótimo mesmo.
Mas a vida é assim: algumas pessoas tem (acham que tem) a liberdade de dizer e fazer o que querem, invadir o espaço alheio, sabe. Outras não.

E mais sexy que o espanhol só o silêncio, né? Essa capacidade rara que muitas pessoas ainda não conseguiram desenvolver para evitar falar merda e agir de forma mais humana, menos animal.
Eu estava sentada em uma mesa retangular de pernas cruzadas e na minha frente havia muitos adolescentes. Eu perguntava quem já havia prestado vestibular, quem queria um curso de exatas, biológicas ou humanas - este último me causou uma certa pontada no estômago. Uma amiga me ligou e me chamou pra dar um rolê, eu disse que não podia porque estava dando aula. Então, aquela situação era uma aula. Aqueles adolescentes eram alunos e eu...professora. Eles pediam para eu falar maisalto e eu achava isso estranho porque sei que normalmente meu tom de voz é alto. Então, eu pensava: Não estou sendo ouvida, tem alguma coisa me silenciando - enquanto tentava aumentar meu tom de voz e projetar até os meninos da última fileira. Mas era inútil. Era como um daqueles sonhos que você tenta gritar "mãe!, mãe!" mas a sua voz não sai, sabe? Eu sentia meu corpo doendo. Ele me acordou e ao abrir os olhos lembrei desta sensação de agressão. E da voz que é silenciada. Eu lembrei das coisas que estão acontecendo e me senti um pouco mais fraca e com dor nas costas do que de costume.

Estou muito nervosa com tudo isso que rolou no Paraná e desesperançosa porque não é a primeira vez que alguma coisa desse tipo acontece e tudo fica de boa. Eu lembrei que estou matriculada num curso de licenciatura e agora estou me questionando, eu tenho coragem para ser professora e viver o sistema educacional deste país?

domingo, 12 de abril de 2015

em grupo

Trabalhar coletivamente é ganhar na votação e perder em outra. É argumentar e convencer, argumentar e não convencer, é escutar um argumento e se sentir convencida.
É difícil, porque é entender que não se está só no mundo, é lidar com as perspectivas, as habilidades e o jeito do outro. É aceitar e entender que há outro. E se sentir feliz por não estar só.
É descentralizar, é dividir, é compartilhar. É sentar e conversar. É um olhar e um sorriso depois de um dia duro.
É um ombro para apoiar a cabeça. É um abraço depois que a chave perdida há alguns minutos é encontrada.
E acima de tudo, é gratificante.

Neusa Sueli e outras histórias

Há uns dez anos, quando eu comecei gostar das peças do Plínio Marcos e a procurar livros dele, minha mãe me contou uma história que eu achei linda mas triste.
O Plínio Marcos costumava frequentar as faculdades para vender os livros que escrevia e falar sobre eles. Eu descobri isso quando eu li um livro dele em que ele cita isso, foi um livro que eu peguei emprestado da biblioteca da minha sogra. E isso tinha tudo a ver com a história louca que a minha mãe contava.
A minha mãe trabalhou durante muito tempo em uma faculdade e certa vez, Plínio Marcos estava lá. Talvez ele não fosse tão famoso naquela época mas era um autor vendendo livro e posso imaginar, a minha mãe canceriana - como eu - numas de comprar um "livrinho" pra ajudar o moço.
Segundo ela, na hora do autógrafo, Plínio Marcos a olhou fixamente (ela não conta com estas palavras, mas sabe como é, eu gosto de escrever...) e disse: "Pô, seus olhos são bonitos pra caralho!" - esta parte em aspas ela conta deste jeito mesmo.
Eu conheço um tanto de Plínio Marcos para achar este fato totalmente crível e nunca questionei a veracidade desta informação. Mas perguntei, e o livro? Quero ler.
Eu nunca questionei o fato dos olhos da minha mãe serem bonitos pra caralho também. Sempre lamentei não ter herdado o par de olhos dela mas, fazer o quê.
Mas depois desta história passei a lamentar também o sumiço do tal livro. Esse livro tinha uma história e sendo a terceira geração de pessoas acumuladoras eu achava o sumiço de um livro com tal história, estranha. E triste.
Ela contou que quando ela casou, a minha vó deu os livros dela, inclusive este. Eu não lembro de ter perguntado para a minha vó sobre o livro. E talvez ela não lembrasse, talvez não quisesse dizer se estava com ela (a minha vó, tinha muito disso).
Cheguei a pensar em procurar o livro em todos os sebos possíveis mas parecia difícil, era uma história antiga, a minha mãe não lembrava do título, editora e nada. Só sabíamos que era do Plinio Marcos com uma dedicatória para ela.
E então depois da raiva, veio a aceitação.
Hoje eu estava mexendo no armário de livros da minha vó. Meu pai observava a cena de longe, atento aos comentários que eu fazia diante dos títulos que eu encontrava por ali.
E lá estava ele.....capa mole, branca e vermelho, fino, pequeno, encolhido entre todos aqueles títulos espíritas. O nome em cima do título não deixou dúvidas, Plinio Marcos.
Minha primeira reação foi repetir caralho 3 vezes seguidas. Depois abri o pequeno livro perdido por pelo menos 30 anos. E lá na primeira folha, estava singelamente legitimando a história toda, com a caligrafia do Plinio Marcos: "Sueli, uma graça".
Eu pedi para o meu pai devolver o livro para a minha mãe porque eu acho que ela vai ficar feliz.
E eu fiquei tão feliz por ter recuperado o livro perdido que eu nem lembro o título dele. E aí entendi porque muitas vezes os títulos parecem pouco importantes.

brisa

Ontem eu cheguei atrasada na aula. O professor me recebeu na porta falando francês. Eu havia tomado só duas Stellas por isso consegui perceber que apesar do professor ser alemão era francês, sim. Ele me levou da porta até um lugar na primeira fileira. Senti minhas bochechas corarem diante da turma toda. Talvez eles estivessem entendendo e combinado alguma coisa. Eu sentei e falei Merci. Deve ser uma das poucas palavras que eu sei em francês e até me surpreendi por conseguir lembrar dela tão rápido. Uma amiga perguntou se eu falo francês. É claro que não, e eu não entendi uma única palavra daquilo tudo. Ele retomou a aula e era Freud. Eu tinha uma dúvida e ele respondeu em francês. E aí eu perguntei: professor, você está falando em francês porque eu cheguei atrasada?
E ele disse: você não nasceu em Paris?

das coisas que saem bastante

O senso comum tenta imperar em qualquer lugar, não é mesmo? Não tinha Erdinger mas não cheguei a ficar triste. Resolvi beber um drink qualquer. Eu estava indecisa quanto a qual vodca escolher para acompanhar o kiwi. Perguntei: quais são estas vodcas, moço? 
Mas o moço me mostrou a smirnoff...e disse que essa estava saindo bastante. Eu tou fugindo de tudo que "tá saindo bastante", principalmente quando há opções e o lugar da qual tá saindo bastante oferece como leitura do hall de espera, a revista Veja.

ser de verdade

Quando criança eu acreditava em muitas coisas. Eu acreditava no papai noel e no coelho da páscoa. Eu acreditava que o Castelo Rá-Tim-Bum existia. Eu acreditava no homem no saco, no papai do céu. E se alguém me contasse que quando se cava um buraco muito fundo se pode chegar no Japão....eu provavelmente acreditaria nisso. Mas não na poesia. Não na imitação da natureza, não na arte. Minhas experiências no teatro quando criança foram muito frustrantes porque eu sempre dizia para mim mesma: Não é de verdade. E não me interessava um índio ou uma onça que não fossem de verdade. Eu não entendia o pacto estabelecido pela arte, a imitação da natureza proposta pela arte. Se quando eu fosse criança tivessem me contado a história do Platão que quis expulsar os poetas da república...certamente eu teria achado o máximo. Se tivessem explicado as coisas que o Aristóteles disse sobre a imitação...que a graça da arte é essa, talvez eu tivesse achado o teatro o máximo, desde o início.
Mas isso importa pouco. Ontem eu estava no Museu Marítimo lá em Santos e umas crianças entraram correndo perguntando se todos aqueles objetos do Museu eram de verdade e eu senti saudade, não daqueles objetos velhos do Museu, mas da minha ingenuidade quando criança. Era ótimo não saber de nada.

os ratos

A história dos ratos no sótão não terminou naquele dia. Foi por tempo e até mesmo razões financeiras que deixamos a vontade de comprar o transmissor de ondas sonoras que afasta os roedores, para depois.
Nesta semana o Thiago começou o papo tentando não me alarmar: Sabe que hoje antes de ir para o trabalho, o Sherlock e o Gregorio estavam na janela da lavanderia olhando para cima? Aí olhei também e tinha dois ratos ali. Meus gatos, muito frustrados com a nossa negativa a respeito da vontade deles de subir para o forro. Finalmente com a turminha roedora tão próxima deles, ali mesmo na lavanderia há alguns metros acima da caixa de areia.
Por um lado admirei a ousadia dos ratos. Eles desceram pra nossa lavanderia para dar um rolê pela calha mesmo com a existência de três gatos aqui. Tenho vivido com ratos sobre a minha cabeça mas sempre segura, sabendo que se os ratos descerem o Sherlock, meu gato mais caçador está aqui zelando pela sua ração e bem estar. Tem o Gregório também que não é um caçador tão bom mas acharia divertido trocar as baratas e mosquitos pelos ratos e a Pandora que nem está preocupada com isso mas cito a fim de somar força.
Hoje quando eu acordei vi o Sherlock observando de perto uma coisinha rosa no chão. De longe, parecia um teco de carne, hipótese rapidamente descartada visto que nunca cozinhamos carne por aqui.
Curiosa, agachei e fui ver o que era. Apesar de choque, constatei bem rápido. Parecia um mini feto. E era um filhotinho recém nascido de rato dando suas primeiras respiradas na minha lavanderia bem abaixo da fuça do meu gato caçador. Suas últimas respiradas também.
Os ratos estão transando aqui em casa e deixando os filhotes para eu cuidar!
A mãe rato pariu seus ratinhos na calha durante o seu rolê. Um deles caiu e os outros dois, o Thiago encontrou depois ao subir com a escada para ver a situação da calha. A mãe rato o viu e fugiu, deixando seus filhotes para trás.
O milagre da multiplicação acontecendo há metros da caixa de areia mas em uma altura que os gatos jamais poderiam alcançar.
E então lembrei que o Jerry sempre foi mais esperto que o Tom e que na vida não haveria de ser diferente.

som ao vivo

No dia em que terminamos eu resolvi colar no primeiro boteco que vi pela frente. Eu pedi logo um litrão e decidi beber tudo. O barzinho ao lado tinha música ao vivo. E ele estava cantando aquela do Tim que fala "você é algo assim, é tudo pra mim, é como eu sonhava, baby". Eu lembrei de você. Da primeira vez que te vi, o sol fazendo a sua pele morena brilhar. Essa imagem ficará guardada em minha memória para sempre, eu sei. Ainda bem que era dia e eu estava de óculos de sol porque naquela parte do "não, não vá embora" eu comecei a chorar. Ninguém viu, eu mexia a minha cabeça no ritmo da música como se fosse um dia bom. Vou morrer de saudade, não, não vá embora, vou morrer de saudade.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Francine

Hoje segurei um livro e me emocionei. É um livro que guarda o resultado de 12 anos de trabalho. E é isso que eu acho mais encantador nos livros, as histórias que eles guardam, até as que não são explicitadas no texto. O nome do livro é "Imagens poéticas em Alphonsus de Guimaraens". Eu não tenho muita familiaridade com esse autor além do poema Ismália. Mas tenho muito afeto justamente por este poema. Uma vez o Thiago e eu estávamos tomando café na cantina do campus e aí estávamos quebrando a cabeça para pensar em alguma coisa para apresentar em um sarau que uma profe tinha proposto. E poesia não é a linguagem com qual temos mais proximidade. Um pouco decepcionados, entramos na biblioteca para encontrar alguma coisa para ler no tal sarau e aí o Thiago me mostrou "Ismália" que eu achei muito imagético e encantador e aí o convenci a montar comigo uma representação em teatro de boneco deste poema. Não ficou lá essas coisas mas aí a profe achou muito legal e nos chamou para fazer uma leitura dramática em um congresso em que ela estava organizando. Portanto, para além da beleza deste poema, gosto do Ismália porque me traz recordações boas.
Apesar de achar Ismália um nome muito bonito, quando eu jogar este texto no meu blog para ler depois, ele se chamará "Francine" primeiro porque eu acho que fica bom em um título e depois porque Francine é um nome não muito comum e quando eu jogava stop eu sempre escolhia esse nome porque quase ninguém conhecia e aí a minha pontuação era maior. Francine também é o nome da autora deste livro que eu comprei hoje e me emocionei porque afinal de contas, este livro reúne muita poesia e muito afeto também.
Como eu disse, o livro é resultado de um trabalho de 12 anos, é muita pesquisa e muito gosto por poesia como o Pedro, escreveu. Como eu não tenho tanta familiaridade tanto com poesia quanto Alphonsus é mais razoável dizer que eu gosto quando as pessoas queridas escrevem e lançam livros. A Francine é professora do meu curso. Eu fui da primeira turma dela no noturno e lembro da primeira aula, foi no anfiteatro e comecei a gostar das aulas de literatura brasileira finalmente e fiquei muito esperançosa em ter um semestre menos tortuoso que o anterior. Eu nunca mais vou esquecer os três paradigmas críticos em Dom Casmurro, a propósito.
Mas o que me levou a escrever este texto é que a Francine tem uma característica que me agrada muito. E eu queria contar sobre isso. Ela é sempre muito aberta para escutar o ponto de vista do outro e também para acolher novas ideias. Ela apareceu num momento em que a gente vendia xerox alternativa e nos emprestou todos os livros da disciplina para xerocar. Teve uma outra época também em que eu fui bolsista de um projeto que ela inventou que era o Moodle Letras. Tirando o fato de garantir o pagamento das xerox e bandeijões com esta bolsa, acho que eu nunca fui bem tão bem coordenada na minha vida e acho que essa característica de abertura em trocar ideia é fundamental. Eu acredito muito nisso. Eu acho até que no dia em que eu não acreditar mais, eu vou largar esse curso de letras.
Eu tenho essa de explicitar as coisas que me deixam contente mas agora vou ficando por aqui porque da página 117 até 147 do livro "Imagens do Poético em Alphonsus de Guimaraens" é sobre Ismália e estou curiosa para ler isso.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Querida, eu queria dizer que há muito tempo nós não nos vemos. Foram as circunstâncias que nos deixaram assim, tão afastadas. Foi o tempo. Foram todos aqueles meses encostada em casa sem ter para onde ir.
Lembrei de você durante todos estes meses. Em como sinto a sua falta. Em como sua presença me fazia bem, em quantas coisas fizemos juntas durante o tempo em que estive contigo. As aventuras de Tintin durante a madrugada. Lembra disso? 
O que restou disso tudo? Não sei. Talvez cansaço. Dores nas articulações e mais tantos fios de cabelo branco que eu inutilmente venho tentando disfarçar de seis em seis meses. E eles sempre voltam com uma agilidade extrema, só você, querida, que demorou tanto a voltar. As pessoas foram boas comigo, tentaram me consolar. Tudo em vão.
Todo esse tempo deu tempo de engordar e emagrecer. Fiz novos amigos, já os perdi, já tenho outros amigos e já perdi estes também. Mudei de casa. A Pandora ganhou dois irmãos. Troquei de trabalho quatro vezes. Segurei forninhos. Segurei essa barra que é gostar de você. E tantas outras coisas, todas elas aconteceram enquanto você estava longe de voltar.
Eu mal pude esperar pela sua volta. Urgência. Insônia. Olheiras que também venho tentando resolver de forma inútil. E algumas balas para dormir.
Neste fim de semana tive um resfriado relâmpago de apenas um dia, perdi o show dos Titãs no PJ, mas quem eu queria ver mesmo, era você. Era tudo ansiedade.
Mas agora você está aqui. E eu toda facinha na sua depois de seis longos semestres de espera. Três em um mesmo ano. Três sem tirar. Lembra? E quem sobreviveu para contar essa história? Não sei mas eu estou aqui todinha para você.
Vem, Férias, vem quicando pra mim, sua linda. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

15 minutos

Eu não sei porque ela apareceu ali e eu inclusive perguntei se naquela hora, de sol quente do meio dia e pouco ela não deveria estar na escola. Mas ela disse que tinha 18, já.
18, se não fossem os documentos falsos que eu conhecia muito bem, eu teria dito: Que legal, já pode entrar no motel.
Mas essa coisa de ter 18 e poder entrar no motel é da minha época e não da época dela. O que as pessoas da época dela estão fazendo? Não sei. O que comem, como vivem? Não sei. Provavelmente fabricam seus próprios documentos falsos com muito mais facilidade do que nós, da minha época, fazíamos.
Sei lá, misturam vodca na gelatina enquanto ouvem alguma banda indie, não sei, algo colorido assim.
Essa moçadinha de hoje não conhece nem o He-Man. Lembra daquele episódio em que o He-Man dizia para não fumar?
Pois é, evidentemente não ouvi aquele conselho do He-Man. E eu fazia os 15 minutinhos finais do meu almoço, com o meu cigarro na porta do trabalho. Eu sou fumante, sim e depois do almoço eu percebo que as pessoas do meu departamento tapam o nariz. Elas sentem o cheiro do cigarro. Fazer o que?
Ela me pediu o isqueiro. Na minha época este era o grande início de conversa que você poderia ter em qualquer lugar da Augusta, era um código mas fiquei na dúvida se ela sabia disso...se nos dias de hoje este código ainda existe. Então fiz cara de moralista e perguntei se não era a hora de estar na escola. Não funcionou porque ela veio com o papo dos 18.
E aquela tossida depois de dar a primeira tragada me levou a crer que sim, ela conhecia o código impregnado na tradição dos amantes da noite.
Já vivi bastante para entender que ela queria conversar comigo. Eu pensei comigo: adolescente geralmente gosta de reclamar da família e foi isso que eu perguntei. Se os pais dela sabiam que ela fumava.
Pronto. Ela contou tudo sobre os pais, o irmão, os questionamentos políticos, filosóficos, religiosos, etc e tal, o curso que começou na faculdade e que tá abrindo a cabeça, e todas as outras coisas que estão abrindo a cabeça. Ela me parecia ter a cabeça bem aberta mesmo.
Mas eram os 15 minutinhos finais do meu almoço. E o tempo acabou. Ela era linda e me perguntei se eu ainda tinha idade para isso, para achar alguém de 18 linda.
Não tinha nada demais nisso tudo era só que o dia estava ruim e ficou melhor depois que alguém pediu meu isqueiro emprestado.
Alguém que se destacava na multidão.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Virado à Paulista

Eu lembro dessa história. Foi numa quinta-feira.
Foi num dia tipo assim que a gente fala: Passa lá no trampo pra almoçar, a gente faz alguma coisa depois.
Isso me contaram depois também.
Tem um cara que frequenta aqui a lanchonete...eu não sei o nome dele mas a gente chama de poliglota porque já vimos ele falando várias línguas. Quando ele chegou nesse dia, ele beijou a boca de uma moça bem nova que eu nunca tinha visto aqui.
O que eu achei gozado é que eu achava que ele era namorado de uma outra moça que também vem sempre aqui, eles almoçam juntos todos os dias. É a Cidinha, essa eu sei, já ouvi ela se apresentando pras pessoas.
Aí o poliglota beijou a moça mais nova, eu vi detrás do balcão. E aí a Cidinha chegou e beijou ele também. Nunca tinha pensado isso do poliglota.
Acho que é porque ele fala várias línguas então tou pensando em fazer um curso de inglês daqueles que você aprende a falar em 3 meses. As mina curte isso já saquei.
Os três foram pra mesa, vieram para mais perto da pia, eu tava lavando os copos nesse dia.
Então o poliglota sentou ao lado da moça mais nova com a mão na coxa dela e perguntou o que elas queriam comer.
A moça mais nova disse que não queria nada, valeu. Já tava de saída. Mas pôxa, ela tinha chegado só há 10 minutos!
E então ele disse: Vai comer, sim. Cidinha o que você vai querer?
A Cidinha disse que queria comer um virado à paulista. Ela disse que tava com vontade de comer bisteca.
O poliglota disse para a moça mais nova: ah, ótimo, pode ser virado à paulista então, amor?
A moça mais nova só falou que podia. O poliglota perguntou então o que elas iam beber. E esperaram o atendente.
Eu não estava atendendo neste dia. Aí como o atendente não apareceu porque a lanchonete tava cheia, o poliglota veio fazer o pedido no balcão com o Noca.
Enquanto isso, na mesa, a Cidinha mexia no celular. Se pá ia fazer um selfie com a bisteca e postar no face igual todo mundo.
A mais nova olhava para o teto e para os cartazes da lanchonete. Bolo de climão.
A cidinha então pergunta para quebrar o gelo:
- E aí o que você gosta de fazer?
A mais nova vira para Cidinha e fala:
- Gosto de escrever hitórias.
Aí parece que só por educação ela pergunta:
- E você?
- Ahhh, eu gosto de crianças.
A mais nova parece bem menos empolgada mas diz:
-Legal.
O poliglota chega e o virado à paulista deles chega bem em seguida. Aqui a gente trabalha bem rápido, principalmente na hora do almoço que é rush, né.
Enquanto eles comem, a Cidinha conversa com o poliglota sobre relatórios de uma burocra qualquer.
A mais nova se levanta, diz, tou indo e da um beijão no poliglota. E sai.
Que bundão, cara. sássenhora. Se eu não tivesse no trampo eu ia dizer: Aí, sim, heim?
Aí foi rápido. Mesmo com os carros passando a mais nova atravessou a alameda.
O corpo dela voou alguns metros. Sangue na cabeça e acho que esta historia ela não vai escrever.
Foi o virado à Paulista mais indigesto que eu já tinha visto na vida.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

simples assim

Parece uma grande bobagem.
As coisas todas tornando-se mais leves naquele dia, o dia dos origamis.
Aquela tarde de outono em que suas mãos ficaram com os dedos todos verdes depois de dobrar aqui, agora aqui, ali e e ali de novo.
Antes de abrir as asinhas - tem que fazer um pedido. Foi o que você havia me dito.

E eu fiz.

Mas depois você me disse que para que o pedido se realizasse eu deveria fazer mais 999 origamis.

Eu deveria dobrar um bando de 999 origamis tsurus cuja técnica eu ainda não havia dominado e estava longe de dominar.

Você também parecia triste mas certamente não era por isso. Você não sabia que eu parava por ali.
Você não sabia que eu não chegaria a dobrar os outros 999 tsorus.

Não. É tudo mais simples. Você dobra 1000 tsurus para seus pedidos se realizarem.
Eu torno as minhas causas mais urgentes. Eu dobro só um e todos os meus pedidos devem se realizar. Assim mesmo.

Tsurus solitários.

Tsurus solitários. Como eu.

O que importa é a leveza no abrir das asas para voar.

E sempre na hora do voar e partir eu sentia saudades de tudo aquilo.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Eu volto logo, me espera.

Foi a minha primeira vez e ela foi legal comigo.
Ela tinha cabelos longos e vermelhos mostrando a raíz, sardas, unhas pintadas de um verde quase petróleo, aneis e pulseiras. Usava uma blusa branca envolvida por um colar.

Ela disse: Próximo!

E eu avancei meio sem saber o que fazer.
Ela me perguntou: sedex, carta registrada ou simples?
Eu disse que não sabia a diferença entre os três.
Ela me disse que o Sedex chegava no dia seguinte no horário comercial. 15 reais.
Depois ela disse, "ah, eu menti para você, é 14 reais, meu amor". Ela me chamou de meu amor. Me passou o preço e me chamou de amor. Agora eu sou o amor da moça que atende no correio.
A segunda-feira ficou bonita, finalmente.
Ela colou o envelope, colocou a etiqueta e disse desta vez: este é o seu número de controle. Tá, minha linda?

O mundo é tão hostil que eu achei estranho tanta simpatia. Eu me senti mal por querer responder: Linda é você, querida.

Eu estava sem reação. E disse um "obrigada, moça" genérico mesmo pensando em não sorrir muito, talvez tivesse um verde entre os meus dentes não escovados após o almoço.

Eu tenho 20 e poucos anos e hoje foi a primeira vez em que eu fui para o correio enviar uma carta.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

amores efêmeros

Cheguei a lembrar de muitos dos nossos momentos juntos. Eu te limpando por dentro, passando a esponja com espuma em você. Todos os fins de tardes e começos de dia em que estivemos juntos e todas as noites após às 22h em que ficávamos juntos tentando fazer tudo o mais baixo possível porque afinal moramos em um apartamento e no prédio aqui é silêncio absoluto após as 22h.
Todas as vitaminas e sucos que fizemos juntos. E até aquela torta que aprendi a fazer neste ano, ao tentar cumprir a minha meta de aprender a cozinhar mais até o final de 2014.
Agora sei que o fim está próximo. É o fim da nossa deliciosa relação de três anos. Lamento dizer que o seu fim será um ferro velho provavelmente e que depois de ir pra lá, nunca mais nos veremos e você nunca mais sentirá o toque suave das minhas mãos.
Obrigada por tudo que passamos juntos. Obrigada por todas as vezes em que você bateu pra mim.
Eu também estou triste. A vida continua dura e se não fosse o crediário nas Casas Bahia talvez fosse pior e agora que você quebrou...terei de comprar um liquidificador novo.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Banda do galo

Tem uma banda de rock na minha rua. Três casas para frente do lugar onde eu moro. É assim em todos os natais. Eles se reúnem e tocam rock. Da janela do meu quarto dá pra ouvir tudo. Inclusive dá pra sacar quais músicas eles mandam melhor. Eles estão tocando R.E.M. Mas já tocaram duas do Creedance, Pink Floyd e Gun's. Sei que ainda tem Ramones, Beatles e Elvis neste set list. Eles não sabem mas um dos meus grandes desejos natalinos é ser convidada para participar da festa deles.
Se eu tivesse um engradado de cerveja para oferecer em troca, quem sabe.
Mas eu já estou de pijama.
Mesmo assim deixei a janela aberta.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

NÃO É SÓ UM TAPINHA NA BUNDA

Primeiro gostaria de iniciar este texto dizendo que visto a minha experiência de vida, consigo reconhecer um "tapinha na bunda" sem dificuldades. Quer dizer, quando um professor pergunta alguma coisa na aula, até dá para se confundir e não saber realmente a resposta. Mas um "tapinha na bunda" não dá pra confundir.
Hoje eu estava embarcando na plataforma da Sé, sentido Corinthians-Itaquera para mais um dia de trabalho. As portas do vagão abriram-se e eu com óculos de sol e fone de ouvido na transmissão de um AC/DC, senti um tapinha no lado direito da bunda. Sim, foi um tapinha na bunda. Daqueles em que a mão está virada, meio de lado com os dedos para baixo numas de fazer um dos lados da bunda subir, manja?
Eu fiquei furiosa. Eu fiquei furiosa por mim e por todo mundo que passa por isso. Que aliás, acontece no transporte coletivo com bastante frequência. Mas além de furiosa, senti que o tapinha na bunda foi o marco do fim da minha paciência.
Olhei para trás e não foi preciso pensar muito para sacar quem havia sido o cuzão autor do tapinha. Por quê? Oras, porque ele estava com aquele sorriso boçal e ao ouvir o meu "puta que pariu" (um pouco acima do meu tom de voz que já é alto), o cara ainda sorrindo me pediu desculpas e disse que tinha sido sem querer. "Desculpa, o cacete. Ninguém dá tapa na bunda sem querer". Todos naquela região do metrô já estavam prestando atenção na cena. E o cuzão, desta vez sem o sorriso disse que foi porque o cara de trás estava empurrando. "O cara te empurra e você bate na minha bunda por causa disso? Finjo que acredito.". Me senti insultada pela segunda vez por essa desculpinha tão imbecil. E a minha vontade era devolver o tapinha em dobro, só que na cara. Bom, este diálogo aconteceu entre a Sé e a estação Pedro II. Até então eu estava bem atrás do cara encostada na parede do vagão. Visivelmente ele se sentiu exposto e não disse mais nada. Alguém levantou de um banco e eu sentei atrás dele, de braços cruzados eu o encarava e percebi que ele podia ver o meu reflexo através da janela do vagão. Brás. Bresser. Senti que ele se aproximava da porta para sair. Ele desceu na mesma estação que eu. E eu achei ótimo. Troquei meu caminho de costume e segui o cara até onde deu. Na escada rolante, no corredor da estação e na rampa que nos leva até a rua. Antes de cruzar a rampa, ele olhou para trás e me viu. Aqui ficou claro pela terceira vez que se tratava de um grande cuzão mesmo. Ele me viu e apertou o passo. Chegou antes na calçada e estrategicamente parou atrás de uma coluna, fugindo da minha vista e se escondendo. Mas eu precisava ir para o trabalho, por isso, este episódio termina aqui.

agregando valor

É o show da vida. E neste show as pessoas se vestem igual. As pessoas pensam igual. Há vários bares com mesas vazias, mas todas elas estão em um mesmo bar. Como dizia aquela música: "gente jovem reunida".
Todos os meninos usam boné, camiseta de marca, bermuda e tênis sem meia. As meninas usam shorts que deixam a poupa da bunda à mostra. Ah, a primavera!
Eu também uso shorts, junto com uma camiseta também comprada em uma loja de departamento qualquer. Mas ainda assim sinto que o meu figurino está fora de moda.
Enquanto o nosso teco de pizza não vem é que eu me divirto com o show. Dentro de mim a questão que não quer calar: Já estive em algum momento como este? E a resposta que vem em seguida é não. Daí que por alguns minutos eu imagino: Se eu estivesse neste rolê, com quem eu ficaria? A resposta que vem em seguida também é rápida, acho que não teria ninguém do meu interesse. Talvez por não me vestir igual ou por que quando perguntam que música eu gosto, eu digo logo e não fico numas de dizer que gosto de tudo. Eu nunca consegui gostar de tudo, sabe.
Não, calma, tem o cara sentado na mesma mesa que eu....eu ficaria com ele. Mas eu já estou com ele. E é isso que eu digo para o moço que vem nos vender flores.
Eu também não consigo entender algumas coisas ainda. Por exemplo, por que agora os meninos usam terços pendurados no pescoço como se fossem colares?
Outras coisas não tento entender e sim elaborar hipóteses. Um casal para perto da nossa mesa. Vejo inúmeras tentativas dele de tentar segurar a moça por alguma parte do corpo dela. Ela desvia algumas vezes, ele insiste. Suponho: primeiro encontro de ambos, segundo no máximo. Foi o tempo de eu acabar de beber a minha Stella. E ele ali moscando esperando liberar a mesa do bar mais cheio, enquanto a pizzaria em que eu estava possuía várias mesas vazias e acolhedoras. O moço tinha uma Calvin Klein mas pouca estratégia para um primeiro encontro. No final das contas, ele desistiu e veio para a pizzaria. Mas ele escolheu uma mesa atrás da nossa. Pizzaria não agrega valor ao primeiro encontro.
Neste momento paguei a nossa conta e voltamos para casa, sem que eu sentisse saudades do que eu não vivi.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O dia do professor

Quando eu passei no vestibular pra fazer o curso de letras, eu não queria tanto assim fazer letras. Mas eu havia passado e a minha curiosidade levou a melhor. Eu estava pensando em frequentar a Unifesp por algumas semanas pra ver como era, a Unifesp e as letras. Na minha primeira quarta-feira, sendo aluna de letras, eu estava sentada na quarta fileira, segunda cadeira da direita para esquerda, lado direito da sala 1 e um cara muito alto, loiro e com olhos claros, entrou e se apresentou com um sotaque muito diferente. Disse que seria nosso professor de estudos literários. Lembro dele ter dito alguma coisa sobre Berlim e eu pude identificar que ele era alemão. E eu achei genial ter um professor alemão. Agora eu era de letras e tinha um professor alemão. Ele abriu aquele sorriso de canto da boca e disse "hum, agora, é a vez de vocês se apresentarem", sorriu novamente e perguntou o que estávamos fazendo ali. Pra ser sincera, eu não sabia direito o que eu estava fazendo ali. O que eu sabia era que pela primeira vez eu estava gostando de estar ali e me senti acolhida pela figura daquele professor. Eu me senti acolhida, inclusive, pelas poesias que ele havia escolhido para analisar com a gente em nossa primeira aula. Eu cursei este semestre inteiro, e os seis semestres que vieram a seguir. Outros professores incríveis apareceram neste mesmo semestre e outros também nos semestres seguintes.
Antes de entrar na Unifesp e ser de letras, outros professores me marcaram e sei que até eu acabar a Unifesp e mesmo depois dela, outros marcarão meu aprendizado, minha vida.

Eu só queria expressar aqui o quanto valorizo esta profissão. Eu devo muito aos meus professores e tenho muito orgulho deles. Parabéns a eles que são heróis e escolheram esta profissão que nem sempre é valorizada mas que é capaz de mudar muita coisa. Eu acredito na educação e nas pessoas que estão comprometidas com ela.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

transição

Você já mudou de casa? Mudar de casa é assim: você guarda todas as coisas dentro de caixas, coloca em algum transporte para carregar e em algum momento, antes de "mudar" você olha em volta, como se se despedisse daquela casa, não só da casa, mas das coisas que você viveu ali naquele lugar. Hoje não me despedi porque talvez um dia, eu volte. Mas hoje eu lembrei da primeira vez em que entrei no campus da Unifesp Guarulhos. Eu gostei do campus desde a primeira vez, sabe. Eu não queria ser de letras e a minha bunda estava doendo, visto a viagem de São Paulo até lá. Mas e daí? Eu cheguei e achei lindo. E eu queria dizer que apesar de tudo que eu já vi acontecer neste lugar, passar por ali foi gratificante. Foi gratificante pelas pessoas incríveis que eu conheci e por todas as coisas que eu aprendi. É isso que eu guardo para mim, é isso que eu trouxe para mim hoje e lembrei - já com saudade - enquanto tomava a minha cerveja que eu comprei no primeiro boteco do lado esquerdo, antes do final da ladeira que eu subi tantas vezes. Cheguei a me perguntar se em algum dia destes quatro anos de vida universitária, eu já havia contemplado um fim de tarde tão cinza.

sábado, 3 de agosto de 2013

Mais uma dose

Stella, meu amor
Começo a te beber, não consigo mais parar
não quero nem saber, de trampar ou estudar
nem a prova de quinta-feira eu consigo preparar
acho que vou me foder, nesta prova do Revah, 
                                                                                                                                                                          

domingo, 30 de junho de 2013

Jura?

Você sabe o que é estar em um lugar mas querer estar em outro lugar que por sua vez está perto, bem ao lado de você?
Talvez você saiba.
Mas dor no coração não adianta não, meu querido.
O que adianta é a nossa atitude em mudar o que nos é possível.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

3,20 é um assalto.

Como é viver num lugar que não te dá uma chance? Como é estar sob um governo que não te dá uma chance? sempre ouvi minha mãe dizendo que o meu pai não ganha aumento há muitos anos. Eu escuto isso há muitos anos e na primeira vez já fazia muitos anos que ele não ganhava um aumento. Mas as passagens e todo o resto, isso sim. Aumentam sempre, a cada dia. Meu pai toma 4 conduções por dia para ir trabalhar. Ele vai em pé no busão lotado, com as mãos pro alto, segurando em uma daquelas barras para não cair. Ah, ele trabalha pro governo, é funcionário público. Mas esse texto não é sobre o meu pai, não. É sobre todos nós que direta ou indiretamente trabalhamos para o governo. A gente faz aquele esforço pra conseguir pagar a nossa comida e o nosso transporte, enquanto eles fazem um esforço para decidir para qual país viajarão no próximo fim de semana. E como o meu pai, nós sempre estamos tentando nos segurar em algum lugar para não cair, e agora de mãos para o alto também.

(GUANAES, Mayra. 3,20 é um assalto. In: Caos e desafetos. 2013. São Paulo: Delírios de Bolso.)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Morre Ray Manzarek, tecladista do The Doors, aos 74 anos

Pensando no Ray Manzarek e em como este cara está eternizado por aquele som de teclado característico e pela obra que ele deixou com The Doors. Tenho uma professora que me ganhou em uma única frase. Ela estava dando aula de literatura e disse pra turma: "Lembra quando você era adolescente e ficava pensando na vida escutando The Doors?". Eu não sou mais adolescente mas eu nunca deixei de pensar na vida escutando The Doors. Os caras vão e a música deles fica. Esta é a intensidade do rock.
E esta foi mais uma apresentação do espetáculo do meu coração. Ele chegou já como personagem, ranzinza de perua - uma perua bem velha - e colocou todas as suas coisas em cima do palco. Subiu para o camarim e viu meu universo particular - as minhas coisas escondidas - aquelas coisas que eu não levo para cena. Mais um dia de trabalho nesse espetáculo, o cardápio deste dia trazia como prato principal lasanha e sim, claro, tinha sobremesa, pavê de limão. Tinha toalha e sabonete liquido lux. Tinha tudo que poderia ter. E já tinha muito amor. A produção era precária sim, mas no espetáculo do meu coração, o amor, esse não falta nunca.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Partida

Não chorei. Não chorei porque de verdade, eu estava louca para ir embora.
Quando vi você ali suado, suor pingando no rosto misturando-se com lágrimas, eu pensei em chorar.
Eu lembrei de muitas coisas, por um momento risadas que ecoaram durante tantas madrugadas vinham em minha memória.
Banhos de mangueira, poesia, bebida, cigarros, frango de padaria.
Mas não. Porque eu pensei em tudo. TUDO.
Meu coração estava apertado e não era saudade não, era alívio mesmo.
Aquele alívio que eu só sentia ao apagar todas as luzes no fim do dia, lembra?
Você não lembra porque eu nunca te contei. Mas era lindo. Era lindo te ver sumindo na escuridão, sabe.
As flores nunca mais nasceram naquele jardim.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Gostava das curvas.


Há algum tempo que não torcia para ganhar um beijo depois de uma carona ganha por causa de uma noite de chuva imprevisível. – Talvez tenha me oferecido uma carona com segundas intenções, como costuma fazer com todas as outras.
Não posso te deixar ir sozinha – dizia – você pode se resfriar.

E pensou que diante daquela pontada logo acima de seu umbigo, um resfriado era o de menos.